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Mar 12, 2021 - 5 minute read

“Oxalá tenha a sorte que eu não tive”

Faltou uma pontinha de sorte ao Marítimo de Milton Mendes, mas o técnico deseja que esta possa finalmente acompanhar o seu sucessor, Julio Velázquez, que foi apresentado ontem. Milton Mendes vai dar “trégua” ao treino mas não vai deixar de acompanhar a sua grande paixão, aproveitando também o tempo disponível para refletir sobre a sua passagem pelo comando técnico do Marítimo. Em entrevista ao JM, o treinador brasileiro confessou estar de “consciência tranquila”, uma vez que considera que “todos fizeram o que estava ao seu alcance para serem bem sucedidos”. Faltou uma pontinha de sorte, lamentou, desejando que esta possa finalmente acompanhar o seu sucessor, Julio Velázquez, que foi apresentado ontem como o novo timoneiro dos verde-rubros.

“Espero que ele traga sorte na bagagem e a bola possa entrar, mesmo batendo no poste, pois comigo ela estava saindo sempre para fora, como aconteceu no jogo com o Moreirense e noutros. Oxalá tenha a sorte que eu não tive", pediu o treinador, mostrando-se confiante quanto à manutenção do Marítimo na I Liga de futebol.

“Tenho a consciência tranquila, totalmente. De todos os clubes em que estive o Marítimo é aquele que saio mais tranquilo, pois sei onde estávamos e onde chegámos e eu tentei fazer tudo o que possa estar dentro das possibilidades de um treinador”, afirmou o técnico, reafirmando que “nunca fui um problema mas sim uma solução”.

A “sucessão de coisas negativas” que atiraram a equipa para o último lugar da tabela “não tem apenas um porquê. Tem vários”, assegurou, mas a sequência negativa começou no jogo da Taça de Portugal, que o Marítimo perdeu em casa, frente ao Estoril.

“Estávamos com a eliminatória na mão, com o jogo controlado e com muitas oportunidades para sentenciar a partida, mas sofremos o empate para além dos sete minutos dos descontos, exagerados, e depois tivemos duas expulsões”, recordou Milton Mendes, observando que a derrota deixou sequelas “emocionais e de insegurança”.

Para o técnico, antes desse jogo “a equipa estava alavancado cada vez mais, tinha um modelo de jogo que surpreendeu muita gente, e as coisas estavam sempre muito bem planeadas. Mas “há sempre algo que não se pode controlar”, nem voltando ao passado.

Se pudesse voltar atrás, Milton Mendes considera que não teria uma grande alteração para fazer nas decisões que tomou. “Uma ou outra escalação ou algumas substituições feitas no decorrer de alguns jogos, de resto, mais nada, nem mesmo em termos de estratégia”, afirmou.

Emocionalmente, “a equipa pode não estar bem no seu íntimo, mas joga bem, constrói e cria. Mas achei que era o momento de trocar a voz. O técnico falou com o presidente Carlos Pereira (a primeira vez após o jogo com o Tondela) e com os jogadores, “que acharam que tínhamos de continuar e que ia dar certo, pois a culpa não estava na equipa técnica”, recordou, acrescentando que já não podia voltar atrás na decisão de pedir a demissão após a derrota com o Moreirense, no passado fim de semana.

“O presidente Carlos Pereira foi inesgotável no apoio à equipa e nós também fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas as coisas não estavam a resultar. A gente mudou a forma de jogar, a estratégia de concentração e de motivação, e continuou a não resultar. Então chegou o momento e eu disse: Não, agora é hora de fazermos uma mudança”.

Na segunda-feira, explicou o técnico, “a equipa voltou a não concordar que eu devia sair, mas já tinha tomado a minha decisão. Equipei-me, reuni o grupo no relvado e disse-lhes que era importante para o todo que eu saísse. E tinha de dizer em campo, não no balneário”.

Milton recusou convite para voltar aos sub-23

Milton Mendes confirmou ao JM que foi convidado pelo presidente Carlos Pereira para assumir o comando dos sub-23, equipa que orientava antes de ser chamado para tomar conta do plantel principal, mas o técnico recusou a proposta.

“Achei que era melhor não aceitar e pensando também num todo [clube]”, explicou o técnico. “Como é que se sentiria o novo treinador ao chegar ao clube e saber que o ex-técnico principal estava ali a treinar os sub-23? Acho que ia sentir-se ameaçado”, justificou.

“O presidente quis ser gentil e grato comigo. Mas compreendeu que não era o momento para me manter no clube”, acrescentou, observando que “um dia, quem sabe, poderei voltar, mas este não é o momento”.

Todas as condições para a manutenção

O treinador acredita que o Marítimo tem todas as condições para se manter na I Liga. “O último lugar está a uma distância de três pontos fora da linha de água, ou seja, de uma vitória. Se encaixa duas vitórias, vai para o meio da tabela”, observou, considerando que os próximos jogos são cruciais, pois há muitos confrontos diretos com equipas que ocupam lugares baixos na tabela.

“Acredito que tem todas as condições, como também tem o Nacional, e nós como madeirenses temos de torcer para que ambas fiquem na I Liga”, afirmou Milton Mendes.

Trégua para ligar mais à família

Milton Mendes já trabalhou no Japão, Brasil e Qatar, pelo que sabe bem que no mundo do futebol é preciso estar sempre preparado para tudo. Mas agora vai fazer um intervalo, “dar uma trégua”, como diz, ao treino para olhar mais para dentro de casa.

“Ia muito cedo para o trabalho e voltava a casa muito tarde, mas agora penso em dedicar mais tempo à minha família. A minha terra é aqui. Vivo na Madeira há mais de 30 anos, então sou um madeirense por escolha”, disse, assegurando que vai estar sempre atento ao futebol, a sua “grande paixão”.