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Apr 23, 2021 - 5 minute read

“Governo Regional não mente”

Cerca de duas horas depois, tudo acabou como havia começado na audição a Pedro Ramos: o PS convicto de que os números da covid foram manipulados e o Governo a garantir transparência e fiabilidade nos números que reporta. Não foi a audição que o PS pretendia e acabou por não ouvir aquilo que tanto vem se esforçando: a assunção de culpas do Governo Regional.

Em causa está a audição na 5ª Comissão de Saúde e Assuntos Sociais da Assembleia Regional, liderada por Élvio Jesus (PS).  A audição foi requerida pelo grupo parlamentar do PS, a fim de prestar ‘os devidos e necessários esclarecimentos acerca do número de casos de infeção pelo SARS-COV2 na RAM e o seu reporte às autoridades de saúde nacionais’.

O grupo parlamentar pretendia aferir “as razões pelas quais não foram comunicados todos os casos no devido tempo e as razões da discrepância verificada em particular nos meses de novembro, dezembro e janeiro últimos”.

Acabou sendo uma audição muito mais política do que técnica em que os deputados socialistas acabaram por perceber que dali não retirariam mais nada, baixando os braços, face às respostas dadas por Pedro Ramos, que insistentemente negou que a discrepância fosse responsabilidade do Governo Regional.

Pedro Ramos considerou que “os números não batem certo, nem nunca vão bater certo porque a Madeira tem um centro de rastreio que o País não tem; porque a Madeira sempre exigiu teste à chegada; porque há muitos estrangeiros e porque há muitos casos positivos que são detetados no aeroporto e depois se sabe que são recuperados e têm que ser anulados”. Além de que “a DGS tem algumas incompatibilidades como, por exemplo, registar os madeirenses positivos que estão no Continente como sendo casos registados na Madeira”.

Ao longo das suas intervenções foi reiterado, amiúdes vezes, que “nada foi escondido, todos os casos foram reportados e informada a população do que se passava no dia-a-dia”, e que o “Governo Regional não mentiu.

Apesar de sublinhar que os números “nunca baterão certos” entre os da Madeira e os da DGS, Pedro Ramos reconheceu, contudo, que “neste momento há uma proximidade”. Afirmando que “ainda há uma diferença de uma centena de casos”, o secretário regional considerou que isso pode ser explicado com o facto de o registo da DGS ser feito até à meia-noite do dia anterior e o da região ser feito até às 17:00 do dia seguinte. Assim, “naturalmente que os números nunca poderão bater certo, mas esta é a nossa forma de funcionar na Região”, concluiu.

No arranque das confrontações, Miguel Iglésias havia expresso que “as discrepâncias nos ‘reportes’ dos números levaram à conclusão que houve uma falha grave por parte da autoridade de saúde regional, uma situação que afetou não apenas a credibilidade do sistema regional de saúde, mas também a credibilidade da Região no ‘reporte’ de dados a nível internacional e a credibilidade da Região e do País”.  

Mais, essa “total falta de transparência por parte da secretaria” apelida de “irresponsabilidade tremenda” deixou a Região “afetada em termos económicos e turísticos”, e o endossar de responsabilidades à DGS, é uma prática comum “habitual no Governo Regional: chutar responsabilidades”.

Já Victor Freitas, na sua intervenção, lamentou a postura de Pedro Ramos perante a comissão, referindo-se a forma de ‘contra-ataque’ como o secretário regional abordou as questões. O deputado do PS disse que “quando a DGS reportava menos casos, não existiu essa revolta” e no essencial queria saber “desde quando sabe o secretário que havia aqui um problema informático”, referindo que “não percebo intervenções de responsabilizar Lisboa, quando o problema era da Madeira”.

Nos apartes, Pedro Ramos não comentou a acusação do PS de prejuízos económicos para a Região, mas relevou que “o assunto que me traz aqui é um não assunto”, relacionando a audição com a “agenda partidária”. E fez saber que estaria ali “para prestar esclarecimentos sobre essa alegada discrepância porque os madeirenses merecem saber a verdade e não as mentiras do PS, com total falta de respeito pelos profissionais de saúde”.

Pedro Ramos lembrou ainda os “366 relatórios, 345 boletins informativos e 72 conferências de imprensa”, não percebendo onde está a falta de transparência, até porque, frisou, “o presidente do Governo e secretário regional não emitem notificações, logo não mentem”. O secretário regional que tutela a Saúde elencou também todo o processo na Região, exaltando as medidas preventivas antes de qualquer outra zona do país, “mesmo quando eramos criticados” por essas mesmas medidas.

Pedro Ramos revelou, no decorrer da audição, que ‘ansiada’ divulgação de reajustes de medidas terá lugar na próxima segunda-feira. De resto, esta calendarização há muito que se perspetivava, conformando-se que “a análise será feita até domingo” com conferência de imprensa, então, “na segunda-feira, onde serão divulgadas as medidas” concertadas com as autoridades de saúde.

 

 

“Ainda temos a maioria”,  evoca o PSD

As questões colaterais acabaram por ser barradas pelo PSD que, contudo, acabou por também as colocar, mas mais num cenário de exaltação daquilo que vem sendo feito, tendo Rubina Leal esfriado os ânimos socialistas logo no primeiro conjunto de questões colocadas por Miguel Iglésias.

A deputada do PSD não deixou passar e, independentemente “do secretário querer ou não prestar esses esclarecimentos” adicionais, vincou que o objeto da comissão era específico e que fora nesse âmbito que PSD e CDS aprovaram. “Ainda somos maioria”, clamou.

Élvio Jesus, o presidente da comissão leu, então, o que fora solicitada na proposta de audição do PS, a que foi apurada e destacou que ali estava expresso “…e outros assuntos que venham a se revelar necessários”.

Entre as questões de Iglésias estava a aquisição dos testes por parte do SESARAM, com o PS a denotar reservas nesse contrato e ainda com a manchete de ontem do JM relativa ao pagamento de renda do espaço onde está instalada a unidade de consultas externas do hospital do Funchal.

Pedro Ramos disse que de facto o objeto da comissão eram os números, mas assegurou que o contrato em questão “foi o melhor porque era o mais barato” e ainda, no que toca ao segundo tema “estava previsto desde o início que assim fosse e no final do contrato o prédio será então da Região”, sintetizando as vantagens desta concessão.