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Apr 24, 2021 - 5 minute read

Sindicato dos Jornalistas é hoje uma instituição mais aberta ao exterior

A presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ), Sofia Branco, considera que a estrutura é hoje uma “instituição mais aberta ao exterior”, um “ator social”, salientando “o tempo exigente e desafiante” em que o mandato foi exercido. Em entrevista à Lusa, num balanço sobre os dois mandatos à frente do SJ, Sofia Branco destaca algumas das iniciativas desenvolvidas durante este período, o ambiente difícil com que os media se defrontam e tece ainda críticas à tutela pela sua “inação” face ao setor.

As eleições do SJ estão marcadas para 19 de maio, com voto eletrónico pela primeira vez, e Sofia Branco não se recandidata, explicando a razão: “Disse que fazia dois mandatos e cumpro sempre a minha palavra” e “porque defendo a renovação”.

O mandato foi exercido num “tempo exigente e desafiante com sinais preocupantes em termos de sustentabilidade do setor a curto prazo”, apontou, salientando que “a partir de agora quem continuar a fazer jornalismo é resiliente, vai ser preciso ser resiliente”.

Os media, cuja fragilidade económica já se fazia sentir antes da pandemia, viram a sua situação agudizar-se com a pandemia.

“Custa ainda mais porque sabemos a importância da informação” no contexto da covid-19, sublinhou Sofia Branco.

Após dois mandatos, “achamos que o sindicato hoje é uma instituição mais aberta ao exterior e esse era um dos propósitos da candidatura há seis anos”, ou seja, “não é só um parceiro social na concertação social, é um ator social”, disse.

“O que conseguimos nestes seis anos foi torná-lo um ator social relevante no sentido em que se candidatou pela primeira vez a fundos europeus e conseguiu financiamento europeu para conceber um projeto do princípio ao fim”, prosseguiu.

“Pela primeira vez criou-se um projeto de literacia mediática, que é uma das coisas que mais destacamos, que leva o sindicato e os jornalistas a dar formação aos professores sobre media em escolas, em parceria com o Ministério da Educação”, sendo que “todas estas parcerias com outras entidades não existia”, apontou a presidente cessante.

A nível interno, procedeu-se a uma “reorganização do gabinete jurídico”, que é agora “muito mais moderno, capacitado e multifacetado”, que serve “mais os interesses dos associados do que antes”, destacou.

Além disso, o SJ é atualmente, na sua composição, “mais diverso” em vários fatores: “é paritário, e isso era um dos princípios de há seis anos”, bem como também em “termos de meios” e de “vínculo laboral”.

Sofia Branco sublinha que “o número de pessoas que não tem vínculo [laboral] e é hoje sindicalizada é muito maior” do que anteriormente. No último mandato, entre readmitidos e novos sócios, “foram mais de 150”, disse.

“Temos conseguido, apesar de tudo, um número considerável de novas gerações de jornalistas”, referiu.

A direção do SJ fez uma revisão dos estatutos, que está pronta, introduzindo algumas mudanças e “uma das principais é que os reformados passassem a pagar”, à semelhança do que acontece nos sindicatos europeus, “embora não necessariamente na proporção” dos jornalistas no ativo.

“Conseguimos equilibrar as contas do SJ, que hoje tem uma contabilidade mais organizada”, acrescentou.

Entre as várias estreias do seu mandato, está o facto de Lisboa ter sido escolhida, pela primeira vez, “para acolher a assembleia anual da Federação Europeia de Jornalistas”, um “esforço brutal” da parte do SJ que “resultou muito bem”, considerou.

“Acho que foi um dado importante até para alimentar a ideia da abertura do sindicato ao exterior”, referiu Sofia Branco.

Além disso, há a candidatura aos fundos europeus, no âmbito das eleições europeias de 2019, e o projeto de literacia, que é “muito especial para nós”, mas que sofreu com a pandemia porque “isto é um projeto de formação em sala com professores que agora está transformado em formação ‘online’”.

Atualmente existe uma bolsa de jornalistas formados em literacia “superior a 150” e, destes, “um terço tem formação de formadores”, ou seja, “podem dar formação a professores”.

Entretanto, foi também criada uma associação de literacia para os media em jornalismo.

“Criámos uma associação de literacia porque o sindicato tem imensas dificuldades nas candidaturas a fundos, os sindicatos não podem concorrer a quase nada” e, assim, poder concorrer a fundos e ser parceira com universidades, fundações, no fundo ser um “braço civil” do sindicato. Os fundadores desta associação não são todos dirigentes sindicais e inclui pessoas do mundo académico.

Destacou também a conferência sobre o financiamento dos media, algo que “nunca sido feito” e que decorreu em dezembro de 2019, em que “todas as organizações que lá estiveram fizeram propostas que estão na mesa do secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media [Nuno Artur Silva] desde essa altura” e que até agora “nenhuma avançou, nem a promessa que fez de chamar todos para debater o tema”.

Depois “veio a pandemia, fomos insistindo [com a tutela] sempre nesta questão”, mas até agora nada.

“Não conheço mais nenhum setor que não tenha um apoio extraordinário, não está nada sobre media em lado nenhum, nem no Plano de Recuperação e Resiliência”, lamentou Sofia Branco, apontando que existem propostas concretas apresentadas pelo SJ neste âmbito.

“A informação é um bem público e não está a ser protegido devidamente. O que é que o Estado tem feito para o proteger quando estamos a ver tudo a ruir [nos media]”, questionou.

“Há uma inação total” da parte da tutela, nesta altura “não sei para que serve, para ser assim mais vale não ter”, criticou.

Por fazer, porque implicava uma revisão dos estatutos, ficou o objetivo de o Conselho Deontológico, órgão autónomo do SJ, passar a ser votado por “todos os jornalistas com Carteira Profissional” e não apenas pelos sindicalizados.

“É o que nos parece que faz sentido, a proposta está feita”, afirmou.

Relativamente ao teletrabalho, defendeu que é preciso haver uma discussão específica sobre o tema, prevendo que haja sessões de esclarecimento com um advogado especialista em negociação coletiva quando for possível ir às redações.

Já a vice-presidente do SJ, Isabel Nery, adiantou que foi colocada “em marcha uma parceria com investigadores” um estudo sobre a profissão com o objetivo de ter um “melhor conhecimento” que permita vir a argumentar no futuro a possibilidade desta ser aceite “como profissão de desgaste rápido”.

O estudo decorrerá durante três anos e neste momento está a ser fechado o inquérito, envolvendo várias entidades como o SJ, a Associação Portuguesa de Imprensa e a Casa de Imprensa.