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Mar 19, 2021 - 3 minute read

São José: Abordar o coração do pai é ir à sua essência, diz D. José Tolentino Mendonça

O cardeal D. José Tolentino Mendonça escreveu um “elogio” aos pais, assinalando a próxima solenidade de São José (19 de março), a quem o Papa decidiu dedicar um ano especial, com a Carta Apostólica ‘Patris Corde’, desde dezembro de 2020, noticia hoje a agência Ecclesia.   “Abordar o coração do pai é ir à sua essência, é perscrutar o seu mistério e função, é pensar o que aquele pai representa na história da salvação e o que todos os pais representam hoje como património a redescobrir”, escreveu o cardeal, na mais recente edição semanal em português do jornal do Vaticano, ‘L’Osservatore Romano’, citado pela agência Ecclesia.

O Ano dedicado a São José celebra o 150.º aniversário da sua declaração como padroeiro da Igreja universal, feita pelo Beato Pio IX a 8 de dezembro de 1870.

Segundo D. José Tolentino Mendonça, esta celebração foi acolhida por Francisco como uma oportunidade para propor uma reflexão “sobre o sentido perene e atual da figura paterna”.

O arquivista e bibliotecário da Santa Sé considera a missão paterna como “um continuum”, sublinhando que a paternidade “não é simplesmente colocar um filho sobre este mundo”.

“Na realidade, ser pai é aceitar ser construído numa relação de amor com o próprio filho, que modifica radicalmente e define de modo novo o que se era”, precisa.

No artigo publicado no jornal do Vaticano, D. José Tolentino Mendonça parte da pergunta “o que é um pai?” e apresenta três aspetos que a psicologia e as ciências humanas “ajudaram a modernidade a consolidar como adquirido”.

Neste sentido, destaca primeiro a “proeminência que tem o pai na constituição da realidade psíquica de cada pessoa”,;depois, o pai “assoma primariamente no interior do filho como uma interrogação, uma questão por explicar”; em terceiro lugar, “está o facto de constituir uma verdade universal a afirmação de Jesus”: “Ninguém conhece o Pai a não ser o Filho”.

O cardeal português refere que é necessário “aprofundar a dádiva” que o pai representa para passar da “exclusividade do laço materno, fundado na fusão e no desejo, para a complementaridade do laço paterno” que introduz na experiência da “diferenciação e na objetividade da lei”.

Segundo D. José Tolentino Mendonça, a cultura contemporânea “não facilita, em nenhum modo, este reencontro”, por que passou de uma “demolição sistemática a uma estratégica (e eficaz) operação de evaporação do pai”.

“A estratégia é antes a de agir como se o pai, e o que ele representa, tivessem sido removidos. Essa é, em grande medida, como bem o explica o psicanalista Massimo Recalcati, o artifício forjado pelas nossas sociedades

D. José Tolentino Mendonça afirma que “São José é efetivamente um modelo importante para todos os pais” e adianta que um pai sabe ter cumprido a sua missão quando “realiza a sua paternidade não como um exercício de posse, mas como ‘sinal’”.