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May 8, 2021 - 8 minute read

Restaurantes tentam reerguer-se em dias de alívio

A semana foi de alívio para a restauração que desde o dia 2 de maio pode ter a porta aberta até às 22h00. Ainda muito longe da atividade de outrora, empresários queixam-se de que os apoios concedidos não foram suficientes para aguentar a ‘pancada’. Retoma [email protected]
Os últimos dias trouxeram uma lufada de ar fresco aos restaurantes que ansiavam por voltar a servir clientes à hora de jantar. Apenas sete dias se passaram desde que o recolher obrigatório passou para as 23 horas, permitindo aos espaços de restauração ficarem abertos até às 22 horas. Todo o setor, altamente fragilizado pela pandemia da covid-19, respirou de alívio, mas o caminho ainda é longo e desafiante para chegar ao auge de outrora. O alargamento do horário caiu na perfeição nos ouvidos dos empresários da restauração, mas alguns deles, apesar de reconhecerem que o Governo Regional ajudou como pôde, estão convictos de que o caminho será percorrido paulatinamente, tentando recuperar um ano em que os apoios nem sempre foram suficientes para o caldo não entornar.
É o caso de Celso Nóbrega, proprietário do restaurante Laranjinha, no Caniço, um dos muitos empresários do setor que procuram alavancar o negócio em tumultuosos tempos. Quanto aos apoios, diz que os recebeu, no entanto, lamenta o facto de estes não terem sido suficientes para fazer frente à ‘pancada’ da covid-19. “Existem apoios, mas aquele que o Governo Regional deu são créditos bancários. Ora, as empresas já estão atoladas de tanta situação que já não podem ir buscar mais créditos bancários e o que houve a fundo perdido não compensa nunca face aos gastos que os empresários têm”, disse, entendendo que havia outras formas de ajudar. “Uma coisa é dizerem que nos vão ajudar e apoiar, sim senhor, mas há maneiras de o fazer, como, por exemplo, fazer isenções de certas situações. Mas não foi feito isso”, atirou.
Conta o empresário que, inclusive, foi obrigado a reduzir a sua equipa por não conseguir suportar as despesas. “Antes da pandemia eu tinha cinco funcionários na sala e seis na cozinha. Neste momento, tenho três na cozinha e dois na sala”, informou. Ao Jornal, disse que a semana de retoma tem sido “um pouco lenta” e que não acontece à velocidade que todos os empresários ansiavam. “O caminho vai ser longo”, lembra.
“No domingo foi muito bom, mas agora isto tem sido um pouco mais parado”, referiu, acreditando que a fase mais desafiante para a restauração está aí à porta.
“A crise vai começar é agora porque é preciso ver que as moratórias acabaram no mês passado e as pessoas veem-se com os ordenados cortados pela metade, as empresas estão sem capacidade para pagar mais e isto vai começar a cair em cima dos agregados familiares”, apontou.
Famílias com o bolso ‘apertado’ é sinal de poucos clientes e poucos clientes é sinal de prejuízo. Este é um problema que já foi pensado pelo Executivo de Miguel Albuquerque, sendo que a Madeira irá prolongar as moratórias para as empresas. A notícia foi tornada pública na passada quinta-feira pelo presidente do Governo Regional, que considera que a cessação repentina das moratórias traria problemas graves às famílias e empresas. Acreditando que esta fase é uma prova de fogo para o setor, o responsável pelo Laranjinha está convicto de que “calma, paciência, boa gerência e inteligência” são os ingredientes essenciais para as receitas voltarem a ter o sabor de outros tempos. “Mantive a equipa com esforço” De pouca clientela também se queixa António Moreira, proprietário do restaurante Cantinho dos Amigos, na Rua das Murças, no Funchal. “O negócio ainda está muito fraco”, lamuriou. Nas ruas fazem falta os estrangeiros que para muitos espaços de restauração significam uma grande fatia da faturação. Aos poucos, a Madeira vai retomando as operações aéreas tão desejadas pelo setor turístico, mas ainda não são suficientes para se refletir na restauração e disso António Moreira não tem dúvidas: “faltam os turistas”.
“Enquanto não houver turistas suficientes, especialmente os ingleses e os alemães, pelo menos nesta zona do Funchal, isto não vai funcionar muito bem à noite”, sublinhou.
Ao contrário do primeiro empresário, este responsável conseguiu segurar as ‘pontas’ durante a pandemia e continua a contar com o mesmo número de funcionários, mas sublinha que conseguiu esse feito “com muito esforço”.
Reconhece que as ajudas do Executivo foram essenciais, mas não chegaram. “Houve alguns apoios do Governo Regional, mas quando não se fatura isto desaparece de um dia para outro. Este é um tipo de estabelecimento que mesmo fechado tem as suas despesas”, declarou. “Muitos condicionalismos” Na Zona Velha, que no passado dia 2 já fazia lembrar os velhos tempos, Aurélio Ferreira, proprietário do restaurante Noitescura, foi um dos muitos empresários do setor que por força da pandemia teve de dispensar muitos dos seus funcionários. Não indicou um número em concreto, mas assegurou que pelo menos metade dos funcionários foram mandados embora. Afirmou ao Jornal que recorreu aos apoios que conseguiu, uns recebeu, outros não. No entanto, esse auxílio não foi suficiente para fazer frente aos desafios imputados pela covid-19. Embora reconheça o trabalho do Governo Regional, atirou que este também “impôs muitos condicionalismos”, impedindo os empresários de “usufruir de algumas das ajudas”, atirou. Além de optar por dispensar funcionários, o empresário que antes tinha o espaço a funcionar todos os dias das 11h00 até à hora de fecho, estabeleceu novos horários de funcionamento, mais reduzidos, para colmatar a falta de pessoal.
“Decidimos fechar o restaurante entre as 15h00 e as 18h00 e também optámos por fechar um dia durante a semana [terça-feira] porque caso contrário teríamos de contratar mais funcionários para esse período dito morto”.
Uma pitada de esperança veio dar ao setor Miguel Albuquerque, que na passada quarta-feira mostrou-se recetivo ao alargamento do horário da restauração para as 23 horas. Uma decisão que só será conhecida daqui a cerca de duas semanas, o correspondente a dois períodos de incubação da covid-19.
“Uma excelente ideia”, considera Aurélio Ferreira, reconhecendo que os madeirenses não têm por hábito jantar cedo e que o horário em vigor faz com que os clientes tenham de comer “à pressa”. “Boa adesão” Já no restaurante Espaço Funchal, na Rua da Carreira, que no forte temporal de 28 de março ficou sem uma parte substancial do teto que havia cedido, situação que, entretanto, já foi parcialmente resolvida, Tiago Andrade, responsável pelo espaço, aponta que estes primeiros dias têm sido positivos e que houve “boa adesão, tanto de madeirenses como de turistas. Mas “nada de extraordinário”, advertiu. Embora o Dia da Mãe tenha feito disparar as reservas, o número de clientes que por ali entra e sai está “muito longe do ansiado”. Conta o responsável que, antes da pandemia, chegavam a servir cerca de 80 jantares por noite, porém, nesta primeira semana de desconfinamento progressivo são menos de metade, apenas cerca de 25 jantares. A jornada avizinha-se “lenta e difícil”, vincou. “22h30/23h00 era o ideal” Mais habituado a servir jantares, o restaurante Santo António, no Estreito de Câmara de Lobos, admite que prolongar um pouco mais o horário do recolher obrigatório seria ainda mais benéfico para o negócio, mas reconhece que estas são medidas que visam salvaguardar a saúde pública e, como tal, entende a posição do Governo Regional nesta decisão. “É preciso que coloquem isto, pelo menos, até às 22h30/23h00 para os clientes estarem mais à vontade e também para nos dar uma maior margem de manobra. Mas acredito que isto irá se compor aos poucos”, disse, convicto, Manuel Jesus, gerente do restaurante.
“Tem sido razoável, não nos podemos queixar. Qualquer restaurante da Madeira não estava a ganhar dinheiro. Só almoços era complicado. O nosso espaço é mais de jantares do que almoços, portanto, é bom. Foi um grande alívio para nós, porque realmente este setor estava a ser muito fragilizado”, rematou. “Madeirenses não comem às 19” Quem parece estar a receber esta retoma a todo o gás é Jaime Cruz, proprietário do restaurante Lá ao Fundo, situado na Rua Portão São Tiago, no Funchal. Disse que “não pode rec lamar” destes primeiros dias após o alargamento do horário e que o restaurante tem andado “com muito trabalho”. “No restaurante Lá ao Fundo trabalho 90% com madeirenses. Portanto, eu sou das pessoas qu e não posso reclamar porque tenho andado completamente cheio. Hoje [quinta-feira] é um dia de semana e estou cheio outra vez e só de clientes madeirenses”, afirmou, indicando, porém, que o horário em vigor tem prejudicado a dinâmica do espaço. “Como não há estrangeiros e os madeirenses não comem às 19 horas, acho que o horário de funcionamento poderia ser um pouco mais alargado e passar, pelo menos, para as 23 horas. Porque nestas circunstâncias os clientes têm de comer à pressa”, apontou ao Jornal, lembrando que o curto tempo não permite aos clientes desfrutar verdadeiramente da experiência gastronómica e que os próprios restaurantes oferecem um serviço que “não é o ideal”.
“No caso do meu restaurante, que tem muito mais cuidado no empratamento e no servir, não conseguimos tornar esse serviço como nós gostaríamos num espaço de duas horas”, indicou, acrescentando ainda que este tipo de serviço célere tem deixado alguns clientes aborrecidos.
“Têm as duas horas para jantar, pedem uma entrada, um copo de vinho e quando querem uma sobremesa já está ali a tocar nas 22h00 e tenho de informá-los de que já não os posso servir porque está na hora de sair”, lamentou.
De apoios não se queixa o empresário, apontando que o importante agora é recuperar o tempo perdido. “Eu acho que o Governo esteve muito bem nos apoios. Estive dois meses parado em lay-off. Não posso reclamar dos apoios. Acho que a retoma foi muito boa, e, neste momento, temos de recuperar quase quatro meses”, concluiu.