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Apr 9, 2021 - 5 minute read

Reavaliar em 14 dias impacto da reabertura

Ontem foi dia de debate mensal com a presença do Governo Regional na Assembleia Regional, subordinado à Educação, tendo o Executivo se feito representar por Miguel Albuquerque, Jorge Carvalho e Pedro Ramos, mas o tutelar da Saúde e Proteção Civil acabou por não ser chamado a intervir.  Por outras palavras, o presidente e o secretário regional que tutela a Educação deram ‘conta do recado’, pelo que, na relação pandemia/comunidade escolar, pese as vozes discordante, fundamentada com números, esbateu muito daquilo que a oposição pretenderia.

A abrir, Miguel Albuquerque elogiou a comunidade escolar, com ênfase para a classe docente, técnicos de educação e auxiliares educativos pela “forma empenhada, competente e responsável como têm sabido enfrentar os constrangimentos decorrentes da pandemia”. Albuquerque considerou que vai havendo uma boa gestão “dos planos de contingência que permitiu, de forma serena, monitorizar os casos positivos que foram surgindo, prevalentemente exógenos às escolas, evitando a propagação descontrolada do vírus”.

Albuquerque registou a fórmula da planificação, relevando que “antes da Páscoa foram vacinados cerca de 3.600 docentes e não docentes de forma ordenada e responsável” e que “até 9 de abril [hoje] serão vacinados os restantes, num universo de 6.000 pessoas”. Em simultâneo, “no sentido de garantirmos maior segurança, estamos a testar, esta semana, cerca de 20.000 alunos e na próxima semana mais 20.000”.

Ainda assim, mostrou contenção nas análises, lembrando que a retoma das aulas presenciais no ensino secundário e no 3.º ciclo na Região, “a partir de 12 de abril, estarão em circulação, e em maior concentração, cerca de 58 mil pessoas, pelo que, ao fim de 14 dias, vamos aferir os impactos desta decisão”.E admitiu, desde já, que “com a reabertura de todos os ciclos, é evidente que, quase de certeza, isso terá reflexos no número de casos nas próximas semanas”, garantindo atenções redobradas: “vamos continuar a monitorizar, vacinar e testar toda a comunidade educativa”.

Nas exaltações, Albuquerque lembrou que na Região foi “mantida a ligação com as escolas e com os sistemas de aprendizagem” porque foi feita uma aposta, em 2020, na renovação do parque informático e todos os alunos dispõem do equipamento para o ensino à distância. E “todos as escolas estão dotadas de plano de contingência” e têm em vigor “as regras preventivas e profiláticas”, destacou.

 

1.600 portáteis e ninguém ficou para trás

Por seu turno, Jorge Carvalho relevou que o Governo Regional investiu em equipamentos para que nenhum aluno ficasse para trás. Conforme as suas palavras, o Executivo madeirense investiu em “1.600 portáteis que permitiram que os alunos e/ou as escolas que não estavam preparadas pudessem responder ao ensino à distância”. Jorge Carvalho contraria o discurso dos socialistas, referindo que “garantimos que ninguém ficava para trás”. E ressalvou que “dos cerca de 52.000 alunos que temos na Região, apenas cerca de 5.000 ficaram no ensino à distância”. Nas críticas à falta de testagem, desmentiu os números da oposição e exaltou que “6.500 alunos foram já testados” com “cinco casos positivos”, bem como que até 16 de abril serão testados cerca de 40.000 alunos”.

 

“Uma falsa sensação de segurança”

Pelos partidos, Paulo Cafôfo discordou da leitura do Governo Regional e diz haver uma “falsa sensação de segurança”, considerando que o ensino à distância fez com que se “ampliassem desigualdades” entre os alunos. “Pode o Governo Regional fazer muito mais pelo modelo educativo”, frisou, “falando em “alunos que ficaram para trás” e enumerando propostas do seu partido para recuperar a igualdade. Aludiu ainda à necessidade de serem contratados psicólogos, apoiar e ajudar na formação de professores porque é “preciso alterar aquilo que é a aula clássica”. “Não podemos deixar que se perca uma geração”, disse ainda.

Sónia Silva (PSD) realçou, por seu lado, as medidas que o Governo Regional tem vindo a tomar para “o retorno à escola com maior segurança para alunos, professores e funcionários”, designadamente através da implementação dos processos de vacinação e de testagem.

Lopes da Fonseca (CDS) elogiou a “atitude preventiva” do Executivo regional em relação à Educação. “Na Madeira, são dados factuais e não seria sério não reconhecer, 6.989 alunos do secundário praticamente estão testados, 8.716 alunos do 3.º ciclo estão ou vão ser na próxima semana testados e 6.200 professores estão praticamente vacinados”, disse Lopes da Fonseca.

Paulo Alves (JPP) discorda do modelo de retoma, constatando que “existem milhares de alunos que ficaram por testar” e que “deveriam ser testados antes de iniciar o regresso".

Ricardo Lume (PCP) criticou a falta de pessoal auxiliar nas escolas, apesar das promessas do Governo, o facto de, nas escolas de ensino profissional, as aulas terminarem quinze minutos antes do recolher obrigatório e o não cumprimento das regras das autoridades de saúde quanto ao número de passageiros nos transportes públicos.

 

Diretas

Olga Fernandes acusou o Governo Regional de ter deixado passar os prazos de candidatura ao fundo europeu que disponibiliza um apoio financeiro que visa promover a alimentação saudável nas escolas, privilegiando os produtos locais. “A Região tem assim tanto dinheiro disponível que se pode dar ao luxo de recusar apoios?”, questionou.

Nuno Maciel sintetizou que o debate constituiu um momento de exaltação do modelo regional “Ninguém consegue colocar em causa aquilo que são as políticas educativa”, disse o deputado do PSD, referindo que “se não vamos mais longe é que a Constituição não permite”.

Rui Caetano disse que “não estou preocupado com os filhos dos ricos, estou preocupado com os filhos de quem não pode pagar explicações aos filhos para recuperar o tempo perdido no ensino à distância”. O socialista disse ainda que “estou preocupado com os 10.000 madeirenses entre os 15 e os 34 anos que não estão nem na escola, nem na formação nem no emprego”.

Ricardo Lume criticou a falta de pessoal nas escolas e, na resposta, Albuquerque esclareceu que “já entraram 130 novos funcionários nas escolas e em maio irão entrar mais 169”.

Paulo Alves acusou Jorge Carvalho de ser “um malabarista” e Albuquerque respondeu na mesma moeda. “Já me disseram que está muito melhor aqui do que a dar aulas” e que “quem não faz falta nenhuma às escolas é vossa excelência”, disse ao deputado do JPP, que é professor de profissão.

Miguel Albuquerque diz que no continente é que estão as desigualdades: “os ricos em Lisboa colocam os filhos nos colégios, onde se pagam 4.000 euros por mês, que depois vão diretamente para Oxford e Cambridge”.