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Mar 5, 2021 - 4 minute read

Obras motivam queixa à Provedoria

Falta de diálogo, demora na resposta e escassez de informação por parte da Câmara Municipal de Santa Cruz acerca do projeto de remodelação do Largo Conselheiro Aires de Ornelas, mais conhecido como Largo da Achada, terão motivado a queixa. É um assunto que continua a gerar celeuma na freguesia da Camacha e parece não ter fim à vista. André Nóbrega, responsável pela ‘Petição para consulta e revisão do projeto da obra do Largo da Achada’, recusou-se a baixar os braços perante o que diz ser “um total desrespeito pelo património local e vontade popular” por parte da Câmara Municipal de Santa Cruz (CMSC) e levou o caso à Provedoria de Justiça. “Creio que temos a legitimidade e a razão do nosso lado em relação à queixa no Provedor da Justiça, visto que o tratamento que a Câmara tem dado a todo este processo é um total desrespeito pelo património local e vontade popular dos que usam o espaço”, aponta ao JM André Nóbrega, entendendo que a edilidade sempre atuou “de forma dissimulada” perante a situação.Apesar de o executivo santa-cruzense ter apresentado pontualmente algumas imagens sobre a remodelação prevista para o Largo Conselheiro Aires de Ornelas, mais conhecido como Largo da Achada, André Nóbrega recorda que a CMSC nunca procedeu a uma comunicação verdadeiramente pública sobre o assunto.“Apresentar um projeto à saída da missa não faz sentido nenhum”, atira, frisando que “o projeto foi pedido várias vezes e nunca provaram a disponibilidade para o mostrar, tanto que até hoje só temos alguns elementos”.Salvaguardar os interesses culturais da população camachense que “continua ignorada e desconsiderada” pela autarquia. Foi esta a motivação que levou André Nóbrega, que dá voz aos que se sentem lesados pela forma como a obra foi divulgada, a apresentar, no dia 18 de fevereiro, uma queixa à Provedoria da Justiça, tendo o documento seguido para análise no dia 24 de fevereiro, conforme revelou o próprio ao nosso Jornal. Poucos dias depois, no dia 1 de março, e quase dois meses após a insistência por parte dos ‘Camacheiros da Achada’ para um diálogo e consulta de um projeto mais realista, a CMSC partilhou com André Nóbrega, via email, uma planta onde constam alguns elementos adicionais sobre a intervenção. No entanto, o documento enviado pela autarquia veio, segundo o camachense, confirmar muitas das suas preocupações iniciais.Após uma análise feita às plantas partilhadas, André Nóbrega, topógrafo de formação, identificou lacunas que não batem certo com aquilo que o executivo de Santa Cruz tem vindo a assegurar.No que respeita aos espaços verdes, há, de acordo com as conclusões do munícipe, uma redução “de cerca de -955m2, -39% face à dimensão atual”. Como termo de comparação, elucida que esta redução equivale a aproximadamente dois ringues iguais ao do Largo da Achada.Realça também que a planta mostra um corte no espaço do parque infantil, uma redução de “cerca de -118m2, - 37% face à área original”. O topógrafo critica, do mesmo modo, o local para onde será deslocada a referida zona infantil, uma vez que estando previsto ficar adjacente ao ringue multidesportivo, poderá expor os jovens a bolas perdidas.André Nóbrega destaca ainda o facto de “desaparecer” o piso em pedra e de haver uma descaracterização dos monumentos icónicos da Achada. “Foi garantida a valorização de elementos históricos, em particular do Monumento ao Futebol. Uma vez que demoliram o muro, que faz parte da escultura, acreditamos que tal terá sido planeado de forma a ser ‘remontado’ adequadamente, com a devida autorização do autor”, crê. Ora, esta é uma crença que parece perder força, uma vez que na planta divulgada pela autarquia a André Nóbrega, a reconstrução do referido monumento “não parece respeitar a estrutura original, o que igualmente se verifica na Eira da Elsa”, aponta.Um outro ponto que, inclusive, já anteriormente havia gerado celeuma e apreensão entre os camachenses foi o facto de “aparentemente” a Câmara querer “transformar a Achada num espaço para arraiais”. Uma ideia que André Nóbrega diz ser um erro crasso até porque “arraias que recorrem a tal espaço acontecem uma vez por ano [ART Camacha], pelo que dar prioridade a um arraial é desadequado”, atira, lembrando que o Largo da Achada é usado 365 dias por ano para lazer, convívio e passeio.Por todas as considerações anteriormente destacadas, André Nóbrega realça que as garantias dadas pela CMSC “voltam a não ser coerentes com os elementos apresentados”, tal como, aliás, já tinham os ‘Camacheiros da Achada’ alertado aquando da divulgação das primeiras imagens do projeto em 3D.Como tal, lança novamente um repto à autarquia para que partilhe o projeto já em execução, desde meados de janeiro, não só com as plantas finais, mas também com as respetivas memórias descritivas, explicando a sua visão sobre a intervenção em curso, “de forma objetiva, sem acusações de intenções políticas”.