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Apr 7, 2021 - 2 minute read

Myanmar: Deputados depostos entregam provas de abusos dos militares à ONU

O partido da líder deposta de Myanmar vai entregar a investigadores da ONU dezenas de milhares de provas de alegadas violações dos direitos humanos pelo Exército, disse hoje um grupo de deputados, afastados pelos militares. Cerca de 600 civis, entre eles cerca de 50 crianças e adolescentes, foram mortos desde o golpe de Estado de 01 de fevereiro em Myanmar (antiga Birmânia), segundo a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos (AAPP).

O número pode ser mais elevado, ressalvou a AAPP, estimando que cerca de 2.700 pessoas foram detidas, muitas sem acesso a advogados, não existindo contacto com as famílias.

Execuções extrajudiciais, tortura, detenções ilegais: a comissão “recebeu 180.000 provas (…) mostrando violações dos direitos humanos em grande escala por parte dos militares”, adiantou um grupo de resistência chamado CRPH (Comissão de Representantes do Pyidaungsu Hluttaw, o órgão legislativo birmanês).

O grupo é constituído por deputados depostos da Liga Nacional para a Democracia (NLD), da líder, também ela deposta, Aung San Suu Kyi, e que se esconderam para fugir aos militares.

A CRPH, que reivindica o direito de falar em nome do país, disse que os seus advogados se vão reunir hoje com investigadores da ONU para discutir as alegadas atrocidades.

“O objetivo da reunião é discutir as modalidades de diálogo” entre a CRPH e o Mecanismo Independente de Investigação da ONU sobre a Birmânia, afirmou.

Esta última, criada pela ONU em 2018 após os abusos do exército birmanês contra a minoria muçulmana rohingya, começou a recolher provas de violações desde o golpe.

Em meados de março, Thomas Andrews, o principal perito independente mandatado pelas Nações Unidas, já tinha denunciado prováveis “crimes contra a humanidade”.

Apesar da violência, a mobilização pró-democracia não está a enfraquecer, com dezenas de milhares de trabalhadores em greve e setores inteiros da economia paralisados.

Em Mandalay, a segunda maior cidade do país, os grevistas tomaram as ruas na quarta-feira, alguns fazendo a saudação de três dedos, um sinal de resistência, de acordo com imagens publicadas em redes sociais.

O acesso à Internet continua cortado para a maioria da população, uma vez que a Junta Militar ordenou a suspensão dos dados móveis e das ligações sem fios.

Cerca de 100 celebridades - cantores, modelos, jornalistas - foram alvo de mandados de captura, acusados de terem divulgado informações suscetíveis de provocar motins nas forças armadas.

Os generais estão a tirar partido das divisões na comunidade internacional. Depois da China, a Rússia rejeitou na terça-feira a ideia de se avançar com sanções contra o regime.