Ao fim de dois anos e meio, o julgamento dos dois jovens que faziam prova para os Comandos conheceu as alegações finais. MP pede a condenação de cinco arguidos a penas entre 2 e 10 anos de prisão. O Ministério Público (MP) pediu ontem a condenação de cinco dos 19 arguidos no processo relativo à morte de dois recrutas dos Comandos, em 2016, a penas de prisão entre dois e 10 anos. Nas alegações finais do julgamento, proferidas ontem, a procuradora Isabel Lima pediu a condenação mais pesada para o instrutor Ricardo Rodrigues que, segundo o MP, terá colocado terra na boca do instruendo Hugo Abreu durante a “prova zero” dos Comandos, a 4 de setembro de 2016, numa altura em que este já se encontrava “muito desgastado fisicamente” pela dureza da prova. Hugo Abreu, que na altura, segundo a acusação, já estava “tonto e a cambalear”, ter-se-á engasgado e desmaiado posteriormente, com a língua enrolada, não tendo recebido o auxílio imediato e necessário, tendo-se o INEM limitado, mais tarde, a confirmar o óbito por alegado “golpe de calor”. Segundo a procuradora, o instrutor Ricardo Rodrigues terá também obrigado o instruendo Dylan Silva, que veio a morrer dias depois no Hospital Curry Cabral por insuficiência hepática e renal, a rastejar no meio de um mato de silvas. O MP deu como provado que Ricardo Rodrigues praticou o crime de abuso de autoridade com ofensa à integridade física, com perigo de vida, pedindo que o seu comportamento, por “ação” e não omissão, seja punido com pena de prisão até 10 anos de cadeia. Isabel Lima, coadjuvada pela colega Leonor Machado, considerou, durante as mais de quatro horas de alegações finais, que cabia ao instrutor Ricardo Rodrigues “zelar pela segurança e saúde dos instruendos”, mas que “não agiu” dessa forma, “potenciando o perigo para a vida do instruendo (Hugo Abreu)”. Quanto ao médico Miguel Domingues, também acusado de abuso de autoridade com ofensa à integridade física, mas “por omissão” e não ação, o MP pediu uma condenação a cinco anos de prisão, pena passível de ser suspensa na execução. Quanto ao militar responsável pela “prova zero”, Mário Maia, que falou durante o julgamento e que está acusado de abuso de autoridade com ofensa à integridade física, por “omissão”, a procuradora pediu a sua condenação a uma pena de dois anos de prisão, suspensa por igual período. Igual pena suspensa de dois anos de prisão foi pedida para os arguidos Pedro Nelson Morais, Pedro Fernandes e Lenate Inácio. Não foi pedida condenação para os restantes arguidos.