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Feb 24, 2021 - 4 minute read

Marcas do temporal aguardam pelos apoios

Dois meses depois da enxurrada a norte, os desalojados já regressaram 
a casa (na sua maioria) mas ainda esperam pelas obras. 25 de dezembro “Eles andam aí com frequência. Da Segurança Social. De seguros. A gente vê movimentações. Mas, sem ser as limpezas, que foram céleres, não temos mais nada no terreno”, diz Eusébio Pimenta. Este é um das muitas vítimas do temporal que assolou, faz amanhã, dois meses, o norte da Madeira e que afetou particularmente, as freguesias de Ponta Delgada e de Boaventura, no concelho de São Vicente. Mais de três dezenas de famílias ficaram ou com a casa inundada e atulhada de lama ou perderam, mesmo, aquilo que era a sua habitação. A grande maioria já voltou a casa mas continua com as marcas do temporal que, no dia 25 de dezembro à noite, fez lembrar a aluvião de 20 de fevereiro de 2010.Eusébio Pimenta, que vive na Ponta Delgada, ficou com o piso onde vive o filho de 19 anos, completamente destruído. Está limpo mas com as marcas da água. Espera por apoios da Segurança Social para realizar os trabalhos. Questionado sobre se as marcas do temporal estão a ser difíceis de ultrapassar, Eusébio Pimenta é perentório: para quem já viu um filho morrer [atropelado com apenas três anos e meio], a gente aguenta tudo”. Eusébio Pimenta diz que a Segurança Social ofereceu ajuda psicológica, mas tanto ele, como a mulher e o filho de 19 anos, dispensaram o apoio. Ainda assim, não esconde que sentiu medo, muito medo, naquela noite de 25 de dezembro. Isto quando viu a água a correr pela estrada abaixo, com mais de 80 centímetros de altura e que já arrastava carros. “Um dos carros bateu no muro da minha casa e entrou pelo quintal dentro”. Ricardo Fernandes, por seu lado, viu a casa de vizinhos (um casal belga) ir pela estrada abaixo. Ao JM, diz que foi um terror mas que, aos poucos, as pessoas vão recuperando. Os belgas estão a viver temporariamente num espaço emprestado mas querem voltar a casa. E assim estão os muitos outros que viram os seus haveres serem danificados. Ricardo Fernandes garante saber que muitos dos que tinham seguro, já o acionaram e a burocracia decorre. Ontem, estava um dia de sol nestas duas freguesias que visitámos. E aqueles que com quem falámos só lamentam as burocracias que vão existindo. Mas até compreendem. Como diz Ricardo Fernandes, com o mau tempo, veio-se a descobrir, por exemplo, que muitas das casas nem estão no nome dos seus proprietários. Ou seja, daqueles que ali viviam. Na Boaventura, Lucília França, também refere, em declarações ao JM, que ainda não recebeu ajuda para os estragos provocados pelo ‘corgo’ que passa ao lado da sua residência. Mas refere que “eles (os senhores do Governo e da Câmara) andam por aí. Vamos a ver isto no que vai dar…”. Lucília França explica que quando viu que a água lhe ia levar a casa [acabou por passar apenas ao lado e entrar num dos pisos] fugiu com os filhos para a moradia de uma amiga emigrada em França. “Tenho a sorte de ter a chaves. Mas a casa dela também não estava em condições. O piso térreo tinha água até ao joelho. Dormimos no andar de cima”, explica. O trauma ficou e ainda na semana passada, choveu muito. As filhas de Lucília França quiseram fugir mas foi esta que acalmou a ansiedade das mais novas. “Lá porque aconteceu uma vez, não vai acontecer sempre”. E não aconteceu!. O presidente da Câmara Municipal de São Vicente, que encontrámos ontem a visitar a rua dos Enxurros, na Ponta Delgada, [um dos arruamentos que foi atingido pelo temporal de 25 de dezembro do último ano], garantiu ao JM que já decorreram todos os procedimentos quer relativamente às infraestruturas municipais como no que às infraestruturas regionais diz respeito. Por outro lado, há também um levantamento de todas as moradias afetadas e a sua recuperação está aprovada. José António Garcês afirma que decorrem os procedimentos para se iniciar a recuperação mas adianta que tudo o que era urgente já foi reposto. Garcês diz que tudo está identificado