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Feb 22, 2021 - 4 minute read

Mais de 30 por cento sem médico de família na Madeira

Em 2019, 30,2 por cento dos inscritos nos centros de saúde da Região, não tinham médico de família. Ou seja, 87.784 ou esperavam por uma consulta de recurso (que tinham vagas muito limitadas e para as quais é preciso acordar bem cedo e correr para o centro de saúde) ou optavam pelo privado. Por concelhos, o mais afetado era o de Santa Cruz, com 38,9 por cento dos inscritos (17.160) sem médico de família. O Funchal era, igualmente, um concelho com grande número de utentes inscritos nos centros de saúde que não tinham acesso a médico de família. Trinta e seis por cento dos 126.103 inscritos, estavam sem médico, o que corresponde a 45.426 pessoas. No Município de Machico, eram 26,2%, os utentes inscritos na unidade de cuidados de saúde primários, que não tinham acesso a médico de família. Sem médico de família também, estavam 1296 dos 9336 inscritos nos centros da Ponta do Sol. O que corresponde a 13,8% do total. No Porto Santo, dos 5782 inscritos, 395 não tinham médico de família. Ou seja, 6,8 %.

O concelho da Ribeira Brava, com 16.421 inscritos, tinham 5136 sem médico de família, o que corresponde a 31,2 %. O Município Santana era o único, na costa Norte, em que registava utentes inscritos sem médico de família. Dos 72181, 1410 não tinham médico. O que simboliza 19,3 por cento. São Vicente e Porto Moniz conseguiam cobrir toda a sua população com médico de família, não havendo, por isso, naqueles dois concelhos, alguém em lista de espera.

“Qualquer utente tem que ter acesso a um médico de família e enquanto isso não acontecer, estamos a desvirtuar o fundamental”, a opinião é de Lídia Ferreira, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), a qual faz questão de frisar que as suas declarações são prestadas como profissional e não como representante daquela estrutura sindical. Explica que o presidente do Sindicato tem que se preocupar com as condições que são prestadas à classe. Por isso, não quer misturar assuntos.

Ainda assim, como médica, refere que há, de facto, muitos utentes sem médico de família (dá para perceber pela quantidade de gente que vai às urgências do hospital e que aponta essa situação) e que este não é o caminho a seguir. Nem na Região, nem no País. No entender de Lídia Ferreira, o que está a acontecer é que estamos a apostar muito na medicina de urgência e não na medicina preventiva.

A reação ao Jornal surge quando instada a responder sobre se sabe o número de utentes na Madeira que ainda não têm médico de família. Lídia Ferreira desconhece, por completo, qual a realidade regional, mas afirma que basta haver um sem médico, que já se está a desvirtuar os princípios básicos. Lídia Ferreira afirma que há uma falha na articulação entre a medicina hospitalar e a extra-hospitalar e considera que ao não se apostar na medicina preventiva, está-se a fazer com que se gaste mais na Saúde. Ou seja, quando o utente tem acesso ao médico, já tem problemas graves de saúde que custam mais ao Estado.

Já Carolina Cardoso, da comissão de utentes do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira diz ser muito preocupante que 45 mil dos 103 mil habitantes do Funchal não tenham acesso a médico de família. Este número é o que mais lhe salta à vista. Esta responsável critica o facto de o SESARAM ainda não ter divulgado os números de 2020 e acusa o Governo de não ser correto quando diz que há muita gente a ir às urgências e que são falsas urgências. “Estas pessoas que vão para as urgências já vão em desespero, pois não conseguem médico de recurso, nem têm ainda médico de família”, afirma, considerando que urge uma aposta nos cuidados de saúde primários.

O JM tentou ter acesso aos números de 2020 relativamente aos que ainda não têm médico de família. Mas, apesar das nossas insistências, por mais do que uma veze por diferentes meios, não obtivemos resposta do SESARAM. Os dados que o JM procurava saber também não constam do site do Serviço de Região Autónoma da Madeira.