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Apr 3, 2021 - 4 minute read

Instrumentos tradicionais nascem das mãos de jovem de 15 anos

Francisco Jesus, natural da Camacha, recupera e constrói na sua oficina instrumentos tradicionais madeirenses, nomeadamente viola de amare, o brinquinho, o rajão, a braguinha e o machetinho. Desde pequeno que nutre o gosto pela música e pelos instrumentos musicais. Francisco Jesus tem apenas 15 anos e, ao contrário da grande maioria dos adolescentes, não demonstra grande entusiasmo pelos videojogos. Por outro lado, este jovem de tão tenra idade prefere dedicar o seu tempo livre a um ofício que vê cada vez menos artesãos: a lutheria [profissão que engloba a produção artesanal de instrumentos musicais de corda com caixa de ressonância].

Foi na sua pequena oficina, localizada na freguesia da Camacha, no sítio da Nogueira, que Francisco Jesus recebeu o JM para contar um pouco sobre a sua história e explicar como nasceu este gosto.

“Eu ando no Grupo de Romarias Antigas do Rochão desde os meus quatro anos. Nos primeiros tempos tocava concertina, mas lembro-me que não olhava muito para os instrumentos tradicionais, não me interessavam muito”, começou por dizer ao Jornal, enquanto mostrava entusiasmado cada detalhe da sua oficina que carrega todo o seu material que depois dá forma às suas obras de arte musicais.

No entanto, os anos foram se passando e a verdade é que o interesse acabou por surgiu e floresceu. Conta o jovem artesão que foi o “mestre Moniz”, de Machico, quem lhe deu as primeiras madeiras. A partir daí a paixão pela lutheria foi crescendo e ainda hoje assegura que continua a aprender com os ensinamentos que lhe vão dando outros artesãos de vários pontos da Região, com quem vai partilhando conhecimento e enriquecendo os seus saberes.

Foi começando aos poucos, num pequeno compartimento de casa, onde guardava os seus instrumentos. Tentou, falhou e só descansou quando ouviu o som do seu primeiro instrumento: uma braguinha.

Mas não muito tempo depois o pai, Humberto Jesus, o seu maior incentivador, que também se dedica à criação de peças de artesanato, nomeadamente de figuras de presépio, decidiu construir uma pequena oficina para o jovem luthier [nome dado ao profissional especializado na construção e no reparo de instrumentos de cordas, com caixa de ressonância].

Fez já um ano desde que Francisco Jesus começou a traçar o caminho profissional na sua própria oficina que, aos poucos, vai se compondo com materiais e máquinas, algumas delas criadas pelo próprio, necessárias à produção dos instrumentos.

Apesar de este não ser, ainda, o seu trabalho, a oficina tornou-se o sítio onde passa a maior parte do tempo. “Quando não estou em telescola estou quase sempre aqui”, admite.

É lá que, no meio do cheiro a madeira, ganha inspiração para contruir os instrumentos tradicionais, entre eles a viola de amare, o rajão, o brinquinho, a braguinha e o machetinho.

A vontade de continuar a trabalhar nesta arte é tão vigorosa que Francisco Jesus não tem dúvidas. “Eu quero seguir este ramo. Já não há muita gente a construir instrumentos e enquanto eu puder vou fazê-lo porque é isto que gosto de fazer”, disse com firmeza o jovem luthier que, apesar de ainda estar a estudar e ter um universo de opções diante si, decidiu dedicar-se a este ofício.Esta é uma ambição que é apoiada a cem por cento pela família. “Eles gostam da ideia e ajudam-me sempre. Até agora todos me têm apoiado”, garante, convicto de que as escolas de músicas “precisam de instrumentos e há cada vez mais grupos musicais interessados em divulgar cada vez mais as nossas tradições e os nossos instrumentos”, apontou.

Interessados por este ofício também ficaram os amigos do jovem artesão. Diz que durante as tardes batem-lhe à porta da oficina e ficam lá, vendo-o trabalhar e aprendendo com ele sobre a lutheria.

“Já tenho alguns amigos que estão a começar a aprender a fazer instrumentos”, contou o luthier madeirense que acredita que apesar de poucos, sempre vão aparecendo alguns jovens a demonstrar gosto por este ofício. “Não é uma arte que se vai perder”, crê.