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Feb 19, 2021 - 3 minute read

Guterres critica fragmentação da ação internacional face aos problemas globais

 O secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou hoje que as respostas internacionais aos problemas globais continuam a ser “fragmentadas e insuficientes", exortando o mundo a mudar de atitude já no ano em curso. O representante da Organização das Nações Unidas (ONU) falava numa intervenção pré-gravada divulgada na 57.ª edição da Conferência de Segurança de Munique, que decorre hoje em formato ‘online’ por causa da atual pandemia da doença covid-19.

Na intervenção, António Guterres mencionou vários exemplos de problemas globais cada vez mais complexos que precisam de ser abordados através de um esforço coordenado e comum, como é o caso da “catástrofe climática", da “desigualdade e discriminação”, da “corrupção”, da “luta pelos direitos das mulheres", do “afastamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [a conhecida Agenda 2030], do “comportamento desregulado no ciberespaço" ou do “regime de desarmamento nuclear".

Na opinião do ex-primeiro-ministro português, existem quatro prioridades que a comunidade internacional deve abordar de imediato: alcançar um plano global de vacinação contra a covid-19, atingir zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa até meados do século, atenuar as tensões políticas entre as grandes potências e fortalecer a diplomacia pela paz e, por fim, promover a redefinição da governança global para o século XXI.

Sobre o caso concreto da pandemia, Guterres insistiu que os países devem partilhar as doses da vacina contra a covid-19 em excesso e contribuir com 6,8 mil milhões de dólares (cerca de 5,5 milhões de euros) para a plataforma COVAX, iniciativa liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que visa assegurar o acesso global e equitativo às vacinas.

Ainda sobre o combate à crise pandémica, o secretário-geral da ONU reiterou novamente o apelo ao G20 [grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo] para estabelecer um grupo de trabalho de emergência com a tarefa de preparar um plano mundial de vacinação e coordenar a respetiva aplicação e financiamento.

Em relação à meta de alcançar zero emissões líquidas de dióxido de carbono (CO2), Guterres admitiu que ainda há “espaço para esperança”, uma vez que os países responsáveis por mais de 65% das emissões (e representantes de mais de 70% da economia mundial) já se comprometeram com tal objetivo até 2050.

Mesmo assim, António Guterres pediu mais ambição e apelou que o grupo de países empenhados representem 90% até novembro próximo, altura em que está prevista a realização da 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26) em Glasgow (Escócia, Reino Unido).

O representante insistiu ainda no fim dos subsídios aos combustíveis fósseis, nomeadamente do carvão.

“Não podemos resolver os maiores problemas quando as grandes potências estão em desacordo", prosseguiu Guterres, apelando ao fim das tensões internacionais, em especial entre os dois grandes gigantes económicos, os Estados Unidos da América (EUA) e a China.

Por último, o secretário-geral da ONU falou sobre a sua visão para redefinir a governança global, visão essa que passa pelo reforço de um multilateralismo inclusivo e solidário, que inclui organizações globais e regionais, e que marca a diferença entre multilateralismo e multipolarismo.

“Muitos acreditam que a crescente multipolaridade no mundo irá garantir a paz. Mas vamos prestar atenção à História. Há mais de um século, a Europa era multipolar, mas não havia mecanismos de governança multilateral. O resultado foi a Primeira Guerra Mundial”, concluiu Guterres, que anunciou, em janeiro último, a sua disponibilidade para cumprir um segundo mandato de cinco anos para o período de 2022-2026.

O atual mandato de cinco anos de Guterres, que assumiu o cargo de secretário-geral em janeiro de 2017, termina no final deste ano, a 31 de dezembro.