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Mar 20, 2021 - 4 minute read

Felicidade e bem-estar “assumem cada vez maior relevância”

De entre os 95 países analisados em 2020 e publicados ontem no Relatório Mundial da Felicidade das Nações Unidas 2021, Portugal encontra-se na 53.ª posição dos mais “felizes”. No documento que já se encontra disponível para consulta e que, tradicionalmente, é sempre divulgado no âmbito do Dia Internacional da Felicidade (que hoje se comemora), Finlândia volta a surgir como o país mais feliz do mundo e o Zimbabué como o pior da lista. Mas, afinal, o que é a felicidade e como podemos medi-la? Depende exclusivamente de nós, ou passa também pelos outros? Segundo o psicólogo Rúben Sousa, atualmente, “assiste-se a uma procura quase incessante por modos de vida mais saudáveis, onde a felicidade e o bem-estar, pessoal e coletivo, assumem cada vez maior relevância”. Além disso, salienta, “não são raras as vezes que observamos a felicidade, a alegria, o viver bem ou melhor se mesclarem, parecendo, por vezes, assumirem-se quase como uma forma de elevação de uma sociedade moderna e democrática”. É por esta razão que, considera, “a compreensão da felicidade requer uma análise cuidada e aprofundada dos seus impactos nas dimensões individual, por exemplo na saúde ou longevidade, bem como social, através da produtividade, relações interpessoais ou envolvimento social”. “Com a criação do Dia Internacional da Felicidade, que se comemora a 20 de março, as Nações Unidas pretenderam reconhecer a importância da felicidade enquanto objetivo de vida individual, mas também promover a conscientização sobre o seu papel na estruturação das próprias sociedades, identificando-a como uma aspiração na definição das políticas públicas.”, reforça. Importância na nossa vida Na opinião do psicólogo, com a “crescente preocupação social com a temática do melhor-viver”, alicerçam-se também “um conjunto de condutas, práticas e representações pessoais e sociais em função do que se considera ser, estar ou sentir-se feliz e bem”. Portanto, acrescenta, “enquanto arquétipo orientador de ações, atitudes e comportamentos, a forma como concebemos a felicidade tem efeitos individuais e sociais”. “Sabe-se que, tal como as normas e os valores condicionam e orientam as ações em sociedade, a perceção e expressão das formas de sentir, viver e almejar a felicidade também condicionam as suas conceções sociais. Logo, os processos de socialização também devem ser tomados em consideração na compreensão da felicidade. Basta estarmos atentos às referências que nos vão chegando, significantes ou não, através de familiares e amigos, redes sociais, meios de comunicação social, publicidades, filmes, entre outros”, denota o psicólogo, afirmando que “são estas constantes alusões e solicitações relativas à felicidade que acabam por nos influenciar no modo como a percecionamos, sentimos e expressamos”. Diz também que é através de “processos comparativos” que “vamos construindo as nossas expectativas sobre o que significa ser, estar ou sentir-se feliz, as quais, depois, nos vão orientando numa contínua (re)descoberta ou transformação”.
De facto, reconhece o especialista, “a felicidade assume não só uma importância central na vida de cada um de nós, mas também nas sociedades que integramos”. “Releva-se tanto na sua concretização quotidiana, nos mais diversos âmbitos e campos de ação, como na edificação de projetos a longo prazo, direcionando e nutrindo um conjunto de expectativas de futuro”, revela, sublinhando que “é através da forma como a percebemos, que sustentamos um conjunto de aspirações de melhoria ou de mudança das condições que experienciamos no presente; outras vezes, é vivenciada como uma recompensa pela nossa capacidade de nos adequarmos ao que é socialmente idealizado ou, simplesmente, aos papéis sociais onde nos validamos enquanto pessoas e que consideramos como socialmente reconhecidos”. Quanto à “medição” da felicidade, enquanto “um dos indicadores de bem-estar subjetivo com impacto organizacional e social, a par da satisfação com a vida e com a situação profissional”, Rúben Sousa destaca que esta tem vindo a ser adotada por diversos governos e organizações, tornando-se em muitos casos numa prioridade dos seus levantamentos estatísticos.
Neste sentido, explica, “a definição e avaliação de um índice de bem-estar global, onde se inclui naturalmente a felicidade”, pode “constituir-se como um importante indicador do modo de funcionamento global da sociedade e também das organizações, traduzindo a perceção das pessoas que as integram sobre as diferentes dimensões da sua vida”.
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