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Feb 14, 2021 - 3 minute read

Especialista aconselha que desconfinamento seja faseado

Luís Pinheiro, diretor clínico do Hospital de Santa Maria, em declarações à agência Lusa, defendeu que o próximo desconfinamento deve ser feito por fases, com cautela e sem precipitações, porque há ainda muito para descobrir sobre o potencial de crescimento das novas variantes do coronavírus. “Há um conjunto de variáveis que implica que se tenha cautela, muita parcimónia e pouca precipitação”, disse, reiterando que “tal como agora estamos a assistir a uma descida muito significativa dos casos”, se se reverter demasiado depressa as medidas atuais, também irão voltar a subir com a mesma velocidade”.

Luís Pinheiro destacou a tendência, nos últimos dias, para a “estabilização na pressão de internamento, nomeadamente na enfermaria, também traduzível por uma menor necessidade de afluxo à urgência”, mas alertou que não espera “que essa mesma estabilização ou diminuição da pressão se manifeste já em termos de UCI [Unidades de Cuidados Intensivos]”.

“Tem que ver com a evolução natural da doença, em que classicamente começam a controlar-se o número de casos, a seguir é que começa a haver estabilização nas necessidades de internamento e, no último momento, será de esperar (…) que comece também a haver uma diminuição do número de óbitos”, explicou.

Já relativamente aos elevados níveis de pressão registados em janeiro neste e em outros hospitais do país, o profissional recusou usar o termo “medicina de catástrofe”, optando por dizer que, na pior fase da pandemia, no Santa Maria se praticou “uma situação de medicina de limite”.

“O que tentámos sempre (…) foi que a situação caótica externa não se repercutisse internamente, o que não significa que não se tenha vivido nas urgências, e também nas enfermarias, situações de grande pressão e de presença de um número muito elevado de doentes”, avançou.

O médico mais disse que os profissionais de saúde tudo fizeram para que “a prática clínica, sendo de limite, (…) fosse uma prática estruturada e com o mínimo de qualidade e de segurança clínica”.

Questionado pela Lusa sobre se houve nesta vaga da pandemia maior preocupação em proteger os doentes não covid, Luís Pinheiro respondeu afirmativamente, sublinhando: “sobretudo em áreas que na primeira fase acabaram por ser suspensas ou adiadas”.

“Por exemplo, toda a atividade de ambulatório, como consultas, hospitais de dia e cirurgia de ambulatório, na primeira fase houve uma quebra muito mais transversal e muito mais marcada, embora nós tenhamos mentido, mesmo nessa fase, um volume de consultas muito significativo, nomeadamente recorrendo a teleconsulta”, afirmou.

O Hospital de Santa Maria preservou “totalmente a atividade das consultas e de hospital de dia e, até há muito pouco tempo, toda a atividade de cirurgia de ambulatório”.

Contudo, confessou que a pressão sentida no mês de janeiro impôs outras decisões: “Nas últimas semanas, mercê deste crescimento quase exponencial dos casos e da necessidade de internamento e de alocar recursos, tivemos de tomar medidas um pouco mais drásticas, nomeadamente envolvendo a área da cirurgia de ambulatório”.

“Aquilo que pretendemos é (…) com a mesma cautela (…) mas com assertividade e convicção, começar a preparar a retoma das atividades que foram sendo suspensas, na exata medida que os recursos deixem de ser necessários para responder à pandemia”, explicou.