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Mar 24, 2021 - 3 minute read

Ensino à distância chumbado

Duas estruturas sindicais de professores da Madeira dizem que há centenas 
de famílias a partilhar equipamentos 
e há alunos que enganam os pais, referindo que a aplicação não está 
a funcionar ou que o computador 
está avariado. Professores

 

 

A pandemia obrigou, como se sabe, a grande parte do Mundo optar pelo ensino à distância quando a mesma surgiu, de rompante, sem se saber como o vírus agia e as consequências que trazia, assim como à medida que foi aumentando o número de infeções e surtos um pouco por todo o lado.

Se, nos primeiros tempos, autoridades de saúde, governos, pais e alunos [pelo menos na sua maioria] consideravam mais importante perder uns dias de aulas do que perder a saúde, hoje em dia, cansados que estão deste ano de incertezas e restrições, há quem defenda, maioritariamente, que as aulas devem regressar à normalidade o mais rapidamente possível. Inclusive aqueles que, outrora, davam tudo para assistir a uma aula deitados no sofá e enrolados numa manta. Mais desejosos de uma aula presencial, estão os professores. Isto a fazer fé naquilo que retratam os Sindicatos dos Professores e Democrático dos Professores da Madeira, presididos por Francisco Oliveira e António Pinho, respetivamente.

Dar aulas à distância é demasiado complicado. Não devido ao facto de muitos docentes não estarem habituados a lidar com as novas tecnologias [centenas de ambas as estruturas sindicais receberam formação ao longo deste ano de pandemia, não só proporcionada pelos sindicatos, como pela Universidade Aberta e ainda pela própria Secretaria Regional da Educação]. O que acontece, segundo nos diz Francisco Oliveira, é que os problemas há quase não são a nível da tecnologia.

São bem mais profundos e difíceis. Explica que têm a ver com a dificuldade de, do lado dos alunos e das suas famílias, haver interesse que permita o aproveitamento. Acrescenta que muitas famílias estão a se demitir do seu trabalho.

Mas não porque querem. Mas sim porque também têm de ir trabalhar. Mais grave é o facto de, em muitas famílias, os equipamentos existentes [como computadores e tablets] terem de ser usados por mais que uma vez. “Há famílias em que um irmão tem aulas hoje com o computador e, amanhã, tem de dar oportunidade ao outro irmão”, afirma Francisco Oliveira. Há muitas centenas de situações destas, conforme garante em declarações ao JM.

Por outro lado, “há famílias que não sabem como ajudar os filhos, pois também nunca tocaram num computador”, refere ainda. Garante, por outro lado, que é muito mais difícil manter uma turma atenta à distância do que presencialmente.

“Complicadíssimo!”, é assim que reage António Pinho à mesma questão. O presidente do Sindicato Democrático dos Professores afirma que a pandemia já trouxe graves consequências para esta geração que se encontra em idade escolar e dá graças a Deus pelo filho se encontrar no segundo ciclo, ou seja, em aulas presenciais. Refere que os alunos de terceiro ciclo são aqueles com idades mais difíceis de tentar captar e que, a esmagadora maioria, acaba por se distrair. “Há alunos que enganam os pais. Que dizem que a plataforma não está a funcionar ou que não têm rede”, acrescenta Francisco Oliveira. Mas o presidente do Sindicato dos Professores da Madeira acredita que se o retorno à normalidade acontecer o mais breve possível, ainda se conseguirá, com algumas medidas, recuperar o perdido.