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May 3, 2021 - 3 minute read

Eleições locais em Inglaterra são um teste para Boris Johnson e Keir Starmer

As eleições de 06 de maio em Inglaterra serão o primeiro teste aos dois principais partidos, Conservador e Trabalhista, para confirmar tendências de voto e analisar o impacto do ‘Brexit’, pandemia e lideranças, dizem analistas.  Além de eleições locais a vários níveis, envolvendo cerca de 5.000 assentos em autarquias espalhadas pelo país, também vai a votos o deputado de Hartlepool, no norte de Inglaterra, na sequência da demissão de Mike Hill.  

Em 2019, o partido Conservador conquistou uma maioria absoluta nas legislativas graças aos votos de eleitores do norte e centro de Inglaterra tradicionalmente trabalhistas, mas eurocéticos, enquanto o ‘Labour’ ganhou apoio nos centros urbanos e junto da população jovem, mais pró-Europa. 

Aquele escrutínio foi marcado pelo processo da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e por uma liderança impopular de Jeremy Corbyn, que resultou no pior resultado eleitoral do partido Trabalhista desde 1935. 

Desde então, Keir Starmer assumiu a liderança do principal partido da oposição e a pandemia covid-19 tomou conta da política, primeiro marcada pelos erros do Governo de Boris Johnson e, mais recentemente, pelo sucesso da campanha de vacinação e desconfinamento.

Os termos de comparação para 06 de maio vão ser as eleições locais de 2016 e 2017, realizadas antes e depois do referendo do ‘Brexit’, e que beneficiaram, respetivamente, Trabalhistas e Conservadores. 

“Muito aconteceu desde então e tivemos este período fascinante em que assistimos a um claro realinhamento dos eleitores em torno dos dois principais partidos”, disse Jane Green, diretora do Centro de Nuffield de Investigação sobre Política, na Universidade de Oxford. 

Para esta politóloga, será “fascinante” ver se “a invasão dos Conservadores no famoso ‘muro vermelho' vai persistir”, ao mesmo tempo que considera “muitíssimo difícil” para o ‘Labour’ protagonizar uma recuperação nos votos. 

“Estamos no meio de um enorme choque económico, mas um choque muito maior foi que a reputação de competência do partido Conservador estava a ser corroída, mas provavelmente foi restaurada até certo ponto pela forma como correu a vacinação”, disse Green. 

A esperança do ‘Labour’ é que os recentes escândalos sobre o acesso privilegiado e influência do antigo primeiro-ministro David Cameron e de empresários junto de ministros e a suspeitas sobre o financiamento das obras de renovação dos aposentos de Boris Johnson se infiltrem na consciência dos eleitores. 

Por enquanto, as sondagens nacionais continuam a dar uma vantagem saudável aos ‘tories’ e a Boris Johnson relativamente ao Partido Trabalhista e Keir Starmer, respetivamente.

Porém, apesar das análises e expectativas dos especialistas e comentadores, há fatores que tornam estas eleições imprevisíveis e pouco significativas para fazer um ponto de situação rigoroso da política britânica. 

“As eleições locais, legislativas parciais e eleições regionais são geralmente vistas como eleições de segunda ordem. Não são para eleger o Governo e isso significa que as tendências de votação tendem a ser um pouco diferentes das eleições parlamentares nacionais”, alertou Sara Hobolt, académica da London School of Economics. 

Esta questão pode favorecer os partidos da oposição ou partidos mais pequenos por estarem em causa problemas e políticas locais e castigar o partido Conservador, no poder há 11 anos. 

Mas Tony Travers, outro académico da LSE, considera que a pandemia é tão dominante que ensombrou o impacto do ‘Brexit’ e que “este conjunto de eleições será visto, pelo menos em parte, como um julgamento sobre a forma como o governo do Reino Unido está a enfrentar a pandemia covid-19”.