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Mar 29, 2021 - 4 minute read

Covid-19: Novas soluções de logística podem levar vacinas a mais partes do mundo

Equipas de investigadores estão a analisar novas formas de armazenar vacinas contra a covid-19, com o objetivo de ultrapassar a exigência de uma cadeia de ultrafrio, que dificulta a distribuição do fármaco em muitas regiões do mundo. Em causa estão as vacinas à base da tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), como as das farmacêuticas Pfizer e Moderna, que apresentam um período vida útil de apenas algumas horas se não estiverem armazenadas em temperaturas muito baixas.

Atualmente, a vacina da Pfizer precisa de ser mantida a 80 graus celsius negativos (-80º) para armazenamento de longo prazo e da Moderna a -20º, “requisitos que são difíceis” de cumprir em termos logísticos, adiantou Darrick Carter, diretor científico da HDT Bio, uma empresa de biotecnologia de Seattle, nos Estados Unidos, que desenvolve imunoterapias para regiões desfavorecidas do mundo.

Na sexta-feira, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) autorizou o transporte e armazenamento temporário de frascos da vacina da Pfizer contra a covid-19 entre os -25 a -15 graus, as temperaturas dos congeladores, facilitando a distribuição do fármaco.

Em comunicado, o regulador europeu informou que o Comité de Medicamentos Humanos da EMA “deu um parecer positivo para permitir o transporte e armazenamento de frascos desta vacina a temperaturas entre os -25º a -15º graus, ou seja, a temperatura dos congeladores farmacêuticos normais”, desde que isso aconteça “por um período único de duas semanas”.

A agência europeia explicou que esta “é uma alternativa ao armazenamento a longo prazo das ampolas a uma temperatura entre -90º a -60º graus em congeladores especiais”.

Segundo a MIT Technology Review, revista `online´ do Massachusetts Institute of Technology (MIT), as necessidades de armazenamento a temperatura muito baixas constituem um constrangimento adicional, a juntar à falta de vacinas, em lugares com dificuldades logísticas, onde o acesso a contentores de ultracongelação ou até mesmo eletricidade é ainda escasso.

Segundo a publicação do MIT, as empresas farmacêuticas têm testado várias soluções para os seus fármacos, ao mesmo tempo que equipas de cientistas estão a experimentar outras formas logísticas para garantir a estabilidade de temperatura das vacinas de mRNA.

“Quanto mais termoestável uma vacina ou produto farmacêutico for, melhor”, porque isso permite “retirar a pressão da cadeia de frio”, adiantou Pat Lennon, que lidera a equipa da rede de frio da PATH, uma organização que se dedica à criação de condições de igualdade na área saúde global.

Esta organização tem já desenvolvido métodos de controlo da temperatura para distribuição de vacinas, caso da criação de adesivos que mudam de cor com o aumento do calor, informação que ajuda a reduzir o desperdício de doses - se um congelador apresentar danos, a equipa médica não precisa de presumir que as vacinas estão estragadas.

Mais de nove mil milhões destes adesivos ajudaram na distribuição bem-sucedida de várias vacinas em todo o mundo e, conforme as vacinas contra a covid-19 forem sendo distribuídas em mais países, serão outra maneira de garantir temperaturas adequadas, adianta a MIT Technology Review.

Relativamente aos contentores refrigerados, uma das soluções pode passar por um equipamento desenvolvido em 2009 pelos engenheiros da Fundação Bill e Melinda Gates, nos Estados Unidos, para uso em locais com reduzidas infraestruturas para suportar uma rede de frio exigente.

O resultado foi o Arktek - um super-contentor térmico destinado a refrigerar vacinas ou outras amostras biológicas, que funciona com gelo seco ou com uma mistura de água e etanol.

“Se tivermos 450 frascos, eles ficarão refrigerados por três a quatro semanas, enquanto 750 frascos podem permanecer no período máximo duas semanas”, avançou Daniel Lieberman, investigador do Arktek no GHLabs, uma organização sem fins lucrativos criada pela Fundação Gates.

Este dispositivo foi testado pela primeira vez em 2014, quando o ébola atingiu várias aldeias de África Ocidental, com a vacina disponível na altura a necessitar de uma refrigeração de -80 graus.

Quando a Arktek foi implantada no terreno em 2015, desempenhou um papel importante na vacinação de 8.000 pessoas e ajudou a interromper o surto de ébola, adianta ainda a publicação.

Desde então, as cerca de 3.000 unidades permaneceram em países africanos, adiantou Daniel Lieberman, sendo usadas para armazenar vacinas de rotina para doenças como sarampo, poliomielite e hepatite.

Cerca de mil novas unidades foram fabricadas especificamente para a distribuição de vacinas covid-19, que serão enviadas para países do Sul e Sudeste da Ásia, do Médio Oriente e da América Latina.

“A cadeia de frio sempre foi um problema para a distribuição de vacinas e só é ampliada agora porque a pandemia faz com que seja tão crucial vacinar todos os cantos do globo o mais rápido possível”, salientou Deborah Fuller, microbiologista da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, citada pela MIT Technology Review.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado para necessidade de a vacinação chegar a todos os países do mundo como forma de controlar a pandemia da covid-19, coliderando uma plataforma mundial - a Covax - de distribuição de vacinas em países de médio e baixo rendimento.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 2.784.276 mortos no mundo, resultantes de mais de 127 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.