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Apr 26, 2021 - 3 minute read

Corrupção marcou discursos do 25 de Abril

Na cerimónia comemorativa do 25 de Abril na Assembleia da República, a corrupção foi o grande ‘fantasma’ que se fez ouvir em alto e bom som ao longo dos discursos dos partidos com assento parlamentar. Da esquerda à direita viajou-se até ao passado para recordar a Revolução que instalou a democracia em Portugal há 47 anos, mas também não faltaram apontares de dedo ao que ainda está por cumprir, em especial no campo da justiça, numa clara alusão às últimas notícias relativas à Operação Marquês, cuja recente leitura da decisão instrutória gerou, desde o primeiro minuto, muita controvérsia. A esquivar-se da temática da justiça esteve apenas o PS, com o deputado Alexandre Quintanilha a focar-se antes nos desafios do presente, sobretudo nos impostos pela pandemia, mas também em outros como a emergência climática e a “fragilização das democracias”, face ao crescimento do populismo. “Abril foi feito para libertar” Por sua vez, Marcelo Rebelo de Sousa também passou ao lado das matérias da corrupção, virando as atenções sobretudo para o passado colonial, pedindo que se retirem lições da história, sem complexos, temores ou intolerâncias. No entender do presidente da República, não se pode olhar para o passado com os olhos de hoje, tendo reafirmando a necessidade de revisitar a História sem que se passe do “culto acrítico de glorificação do império português à demolição também acrítica de tudo o que a este diz respeito” e defendido que Portugal deverá assumir a justiça ainda por fazer para com os antigos combatentes da guerra colonial e com as pátrias por ela destruídas. “Que os anos que faltam até aos 50 anos sirvam para trilhar esse caminho, assumindo as honras e fracassos, mas construindo coesões e inclusões e não criando intolerâncias (…) Não há, nem nunca houve um Portugal perfeito. Como nunca houve e não há um Portugal condenado”, concluiu. “Há ainda muito por fazer” Por seu turno, Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, recordou as grandes conquistas alcançadas desde 1974, mas sublinhou que “há ainda muito por fazer”, nomeadamente ao nível da justiça, da igualdade de oportunidades e da solidariedade social. O parlamentar apelou também a que os deputados dos diferentes partidos ultrapassem os bloqueios políticos e a que honrem o legado dos constituintes, sendo capazes de convergir e traduzir em leis soluções para o país. “Todos quantos, oriundos de projetos ideológicos tão distantes e quase incompatíveis, souberam convergir no essencial, elaborando e aprovando o ambicioso programa social, económico e político que foi a Constituição da República Portuguesa de 1976”, exemplificou. No seu discurso, Ferro Rodrigues defendeu ainda o aperfeiçoamento das leis sobre exercício de cargos públicos, mas frisou que “não há donos da transparência” e que eleitos e magistrados não podem ser suspeitos à partida.