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Apr 26, 2021 - 4 minute read

“Construir Abril todos os dias porque liberdade é ainda débil”

O escultor e professor Francisco Simões falou dos condicionalismos que ainda persistem, apesar do 25 de Abril. Francisco Simões
O escultor e professor Francisco Simões alertou, ontem, na cerimónia evocativa do 25 de Abril de 1974, na Câmara Municipal do Funchal, que a data “trouxe muitas conquistas que ajudaram ao nosso desenvolvimento, mas não acabou com a ganância do lucro e da exploração”. O militante comunista reconheceu que “os nossos trabalhadores já ganharam algumas melhorias nas suas vidas, mas de tempos a tempos, governos e o capital demonstram a insaciabilidade do lucro e exercem o seu poder contra quem trabalha”.
“A liberdade foi e está condicionada, a pandemia veio acrescentar dificuldades às dificuldades, os empresários, sobretudo os nossos empresários e a nossa indústria do turismo, sofrem um forte abalo, os empregados do turismo estão no desemprego”. Antes, Francisco Simões tinha comentado que “hoje e todos os dias, temos de construir Abril, consolidar a liberdade que ainda hoje, e por vezes, parece estar titubeante e em alguns casos muito débil”, como se nota nas “inadmissíveis assimetrias sociais” que persistem. Por isso, defendeu ser “necessário repensar o nosso sistema de trabalho e a nossa economia, pensar em novos investimentos que privilegiem o desenvolvimento de centros de pesquisa virados para a vida marinha, para a natureza, criar novos clusters que se possam suportar nas novas tecnologias informáticas e eletrónicas”. Por outro lado, o orador convidado considerou que uma grande conquista de Abril é o poder local que carece, todavia, de mais autonomia financeira. “O poder local democrático não pode estar sujeito a caprichos de pequenos poderes políticos que só satisfazem quem lhes convém”. Sendo também um homem da Cultura, Francisco Simões não deixou de olhar para os tempos que correm. “Os governos central, regional e local têm muito a melhorar e a desenvolver nesta área, têm de se orgulhar dos valores aqui existentes e não os esquecer”. Lembrou que nesta última semana, os agentes culturais se queixavam da atual situação em que vivem. “Saúdo e recordo toda esta gente culta que com ética, estética e poética estão permanentemente a semear a cultura que nos há de transformar num país melhor, mais livre, mais democrático”. Num discurso gravado, por estar em isolamento profilático, Miguel Silva Gouveia considerou que o 25 de Abril foi feito de respeito. “Respeitamos o 25 de Abril, se respeitarmos aquilo que abril nos trouxe, especialmente no exercício de cargos públicos". O autarca entende que o respeito por Abril passa por assumir “que a luta de um é a luta de todos”, mas “ainda nos batemos categoricamente pelos direitos legítimos da população que servimos contra tudo e contra todos, contra centralismos assumidos ou encapotados, contra agendas pessoais ou partidárias, e contra interesses privados que capturam a razão de ser da causa pública”. Antes, a palavra foi dada aos partidos representados na Assembleia Municipal. Roberto Vieira, deputado independente, disse que para além da “trapalhada” em que vive o CDS, por causa de um empréstimo polémico, “é preciso também investigar este PS”, lembrando que há quatro câmaras socialistas sob investigação. Raquel Coelho, do PTP, disse que a Câmara tem sido de um homem só, referindo se a Miguel Silva Gouveia. Espera mudanças nas próximas autárquicas, de modo a que não surjam “pedregulhos” no futuro dos funchalenses. Pelo PCP, Herlanda Amado considerou que “comemorar Abril é comemorar o poder local” e, nesse sentido, entende que “os direitos dos funchalenses não podem estar de quarentena”. Pela voz de Carla Baptista, o CDS sustentou que Abril ainda não se concretizou dentro da própria autarquia, denunciando a aprovação de medidas da oposição que “nunca” foram postas em prática. Vera Coelho, do PSD, também expôs vários momentos em que “Abril não se cumpriu” no Funchal. Da Confiança, Miguel Palma Costa defendeu mais medidas de apoio à natalidade pelos governos e um investimento reforçado na educação. O presidente da Assembleia Municipal, Mário Rodrigues, considerou que há “bons motivos para celebrar Abril”, como as autonomias regionais. Contudo, alertou que “o lápis azul da censura do antigo regime parece estar a reinstalar-se, através de polícias e vigilantes que, embora, sobretudo através das redes sociais, pretendem condicionar a nossa liberdade”.