madeira news

Mar 15, 2021 - 7 minute read

Conselheiras do luto ajudam a superar processo solitário

A perda de um ente querido é uma dor lancinante sem tempo de cura. Para ajudar quem tem dificuldade em superar este processo, que é solitário, surgiu, na Madeira, o Apoio ao Luto. Cidália Freitas e Clara Costa passaram por lutos arrasadores. A primeira, perdeu o único filho num acidente, quando ele tinha apenas 7 anos e meio. A segunda, ficou viúva aos 47 anos e, seis meses depois, foi despedida da empresa onde trabalhava.Viveram as suas dores em momentos diferentes e em territórios distintos. Encontraram-se, pela primeira vez, numa reunião da comunidade ‘Mulheres à Obra’, no Funchal, onde Clara Costa foi falar do seu negócio e descobriram aí que tinham algo em comum que poderiam pôr ao serviço de outras pessoas que, como elas, perderam entes queridos. Para além das respetivas profissões (enfermeira e empresária), são ambas conselheiras do luto, formadas pela mesma instituição, e decidiram criar em janeiro do ano passado o Apoio ao Luto, um serviço que neste momento pode ser encontrado através da respetiva página no Facebook onde está o contacto.Por causa da pandemia, não chegaram a arrancar com o serviço em pleno, mas não desistiram. Entre os planos de arranque da atividade tinham um workshop que ficou em suspenso e para as sessões (individuais e em grupo) teriam um espaço próprio, no Funchal.Pais em lutoNa impossibilidade de prestarem este apoio de forma presencial, cumprindo o projeto delineado, têm recorrido ao online, para sessões gratuitas, à medida da procura e das condições que podem oferecer. Futuramente, o aconselhamento será pago. “Quando uma coisa é gratuita as pessoas não valorizam tanto e até pensam que as pessoas não têm formação” refere Clara Costa, lembrando que este é um serviço que existe já noutros países, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a Alemanha, onde os conselheiros de luto são muito requisitados.“Não queremos tirar o lugar a ninguém”, acrescenta Cidália, dizendo que passam a ser mais uma ajuda exclusivamente dedicada ao luto que era até agora inexistente na Madeira.O luto é um processo solitário. Cidália e Clara sabem que assim é, porque também o sentiram. Dizem que há lutos sadios e lutos patológicos e que estes devem ser encaminhados para os médicos. Sabem que as pessoas enlutadas têm uma grande necessidade de desabafar e de falar sobre os entes que partiram. Sabem também que às vezes, essas pessoas não querem falar sobre o assunto, talvez porque não têm quem as escute, sem juízos e sem lhes dizer “deixa que isso passa”.“As pessoas em luto não querem isso, querem que eu entenda que elas estão a sofrer. Não tem a ver com vitimização. A pessoa precisa de chorar, para se resolver e encontrar a sua estratégia de superação. Não temos uma receita, validamos e ouvimos. Só o facto da pessoa falar sem ser julgada é importante para que ela faça o seu caminho”, afirma Clara Costa.Sem tempo e sem receitaCidália Freitas dá uma achega dizendo que “os lutos não têm ‘timings’” e que nos lutos sadios as pessoas encontram o seu próprio caminho. “Se tiverem uma ajuda é mais fácil”, assegura lamentando que na Madeira, como povo ilhéu, não se saiba ainda abordar a morte.No caso dela, diz que será sempre “uma mãe em luto”. Vê o filho noutras crianças, vivência o tempo que teve com ele, que neste caso, foram apenas “sete anos e meio”, vê os amigos de infância dele se formarem e pensa se o filho seria piloto como dizia que queria ser. Pensa sempre “se continuaria a ser um bom menino, equilibrado, inteligente e acarinhado por todos”, mas interiorizou que é possível continuar a viver com todos estes pensamentos e sentimentos.Atualmente, Cidália Freitas e Clara Costa estão a prestar aconselhamento precisamente a um grupo de pais que perderam os filhos, aquele que será o pior luto de todos. É, segundo nos dizem, um luto complexo, contranatura, sendo que o expetável é os pais partirem antes dos filhos. Não sendo esta a sua experiência de vida, Clara Costa diz que sendo mãe tem facilidade em se colocar “nos sapatos” dos pais enlutados.“Fiz o estágio antes de fazer o curso [de conselheira]”, diz-nos Cidália Freitas a propósito da sua vivência de mãe a quem o único filho foi arrancado por um acidente, em 1998, no Rali Vinho Madeira. Antes de passar por esta provação da vida, a morte já era algo que a acompanhava no seu dia-a-dia de enfermeira e a fazia ter “muito respeito pela morte e pelas perdas das famílias”. Lembra-se que poucas semanas após a partida do filho, viveu no serviço, o drama de uma criança que acabara de perder a mãe e não se conteve com a emoção.Ninguém fala da morteReconhece que a morte é uma questão sempre difícil, por mais formação que os profissionais de saúde tenham, especialmente na hora de darem a notícia aos familiares de alguém que morre.“Quando o meu filho partiu senti-me só. Estive completamente só. Senti-me como se estivesse noutro planeta e fosse a única habitante”, recorda assim o estado de espírito em que ficou quando o filho faleceu.Para se reerguer e continuar com a vida para a frente, Cidália Freitas procurou ajuda na medicina tibetana e na filosofia budista. Foi aí que, ao fazer um curso sobre a morte, conseguiu “ver as coisas de uma forma mais abrangente” e ganhou “uma abertura para falar da morte” que afirma não ter tido na sua formação de base.À medida que foi trilhando o seu percurso de luto e aprendendo a superar a dor, foi sendo procurada por outros colegas que também sofriam perdas. Ao ver-se no papel de uma conselheira de luto, entendeu que estava na hora de o fazer devidamente. Mais uma vez foi à procura de formação.Ajuda para pensarEnquanto, na Madeira, Cidália vivia o seu próprio calvário, no continente, Clara Costa fazia o próprio caminho para superar a perda do marido. Para além da perda, sofreu o que diz terem sido os efeitos colaterais do luto, como foi o facto de ter sido “dispensada” da empresa onde trabalhava, alegadamente por necessidade de redução de custos.Para Clara Costa, os custos foram uma desculpa. “O administrador, que era a pessoa com quem lidava diretamente, não sabia como lidar comigo. O meu rendimento foi abaixo. Foi um processo muito difícil. Já não estava tão simpática, tão alegre…”, considera.Também ela sentiu necessidade de ajuda para seguir em frente. Encontrou a resposta em Aveiro, na Associação Apoio ao Luto – ADELO. Começou por receber aconselhamento e mais tarde, mediante formação, tornou-se conselheira, acreditada pela instituição que, refira-se, foi fundada e é presidida por José Eduardo Rebelo, professor universitário, que fez investigação na área da Psicologia do Luto depois de ter perdido a mulher e as duas filhas, num acidente de viação.“O aconselhamento ajudou-me a pensar. Sentia-me perdida e muito só. O luto ninguém resolve a não ser a própria pessoa. Não há medicação, nem há nada, porque o luto é um processo natural. Ajudou-me a perceber o que estava a sentir. Aceitamos as nossas emoções. Foi importante e fez-me crescer o desejo de ajudar”, diz Clara Costa.Na mesma associação, algum tempo depois, em 2019, Cidália Freitas fez a mesma formação. Para ela, o curso foi uma forma de consolidar conhecimentos e de adicionar algumas “golfadas de ar fresco” relativamente ao que já sabia e sentia. E assim conseguiu as ferramentas de que necessitava para se afirmar como conselheira do luto.

000palavra dero que vendstam ndstam vendstam ndstam perderam omnis et eatia vendstam ndstam aut mos repu “Quando o meu filho partiu senti-me só. Estive completamente só. Senti-me como se estivesse noutro planeta e fosse a única habitante”Cidália FreitasLuto e uma longa luta judicialO dia 1 de agosto de 1998 mudou a vida de Cidália Freitas para sempre. Nesse dia perdeu o seu filho único. O menino com sete anos e meio foi uma das duas vítimas mortais do despiste de Adruzilo Lopes, no Paul da Serra.Xxxxx xxx, noverti, que hocturo, se quius portimi libunia pero cone edit Ditatiae ctatum voluptate pla dipsae asperibus arum erum ra dolestIsquiat re