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Mar 29, 2021 - 6 minute read

Chuva ‘afoga’ ainda mais comerciantes

Ao longo de ontem, muitos foram os espaços comerciais e de restauração que procederam aos trabalhos de limpeza após uma noite de temporal. Os prejuízos são muitos e a preocupação é muito maior. Prejuízo [email protected]
É caso para dizer que esta foi uma cliente indesejada. Chegou sem avisar, não deu lucro e ainda deixou avultados prejuízos. Como se já não bastasse a covid, também a chuva decidiu dificultar ainda mais a vida de um setor que já se encontra fortemente fragilizado. A manhã de domingo trouxe o sol após a tempestade, mas muitos dos comerciantes do Funchal quando se deslocaram aos seus espaços, estavam longe de imaginar aquilo com que se iriam deparar.
O JM fez uma ronda por alguns dos estabelecimentos comerciais e de restauração da cidade e, apesar dos prejuízos avultados provocados pelas inúmeras inundações, foram os rostos de preocupação dos que destes negócios se sustentam que mais se destacaram nesta reportagem. Cai ‘chuva’ dentro da sapataria Não era literalmente chuva, mas, de facto, parecia. Na loja da Linnus Sapataria, localizada na Rua da Carreira, uma das artérias mais fustigada pelo mau tempo, o cheiro a material molhado, a terra no chão e as persistentes pingas que caíam do teto mostravam com clareza os estragos causados pelas fortes chuvas da noite anterior. Difícil era encontrar algum sítio seco dentro da sapataria. O cenário era desolador.
Lino Abreu, o proprietário, contou ao jornal que se deslocou ao espaço no domingo de manhã para verificar se tudo estava bem. Abriu a porta e encontrou o que nunca esperava: ‘chuva’ a cair do teto com vários pontos de infiltração
“Com a quantidade de água e relâmpagos que estavam a cair já estava a prever que as coisas não iam correr bem. Entretanto, vim cá hoje [domingo] de manhã e deparei-me com este cenário completamente devastador”, contou o responsável, indicando que há “uma perda quase total” da loja. “Se formos a contabilizar as obras mais o recheio estamos a falar de um prejuízo de cerca de 80 mil euros”, revelou, acrescentando que a loja ficará, naturalmente, encerrada para avaliação dos danos.
“Tenho o espaço cheio de água” Seguindo pela Rua da Carreira, os baldes de água, as mangueiras e os carros de bombeiros que se viam já indicavam que ali se procediam às limpezas pós-temporal.
Um dos trabalhos decorria no restaurante Espaço Funchal, onde uma parte substancial do teto acabou por ceder na madrugada de domingo.
“Parece que o apartamento de cima inundou pela varanda e caiu pedaços de teto para o restaurante. Tenho o espaço cheio de água. Há muitos estragos. Tenho praticamente todo o equipamento submerso”, revelou Armindo Berenguer, proprietário do restaurante, lamentando os avultados danos causados pela intempérie. O responsável refere que tentou ainda evitar o pior na noite de sábado, quando se deslocou até ao espaço, mas que já não havia nada a fazer. “Tinha quase um metro de água aqui ontem [sábado] à noite, por volta das 22h00, e já não dava para fazer nada”, afirmou, sem saber ainda quando poderá voltar a abrir portas. “O chão ficou todo inundado” Do outro lado da rua, muito havia também por fazer no restaurante Regional Flavours, que no sábado, por volta das 21h00, começou a ser invadido pela água. Em frente ao espaço, na manhã de ontem, via-se a azáfama dos funcionários que retiravam mesas, cadeiras e tudo o que ainda podiam salvar. “O chão ficou todo inundado. A nível dos equipamentos ainda nem conseguimos apurar a situação. Tínhamos muita comida dentro dos frigoríficos e temos que verificar isso tudo”, indicou Diogo Vieira, um dos funcionários do espaço.
“Nem tenho palavras” Na manhã de ontem, estava longe de imaginar o que encontraria do outro lado da porta do seu negócio. Luís Taborda, proprietário da Taberna snack-bar Grandfather, situado na Rua Santa Maria, na Zona Velha, abriu o seu espaço comercial às 08h00 como, aliás, sempre faz. O espanto surgiu logo depois, quando se deparou com uma parte da estrutura do teto no chão. No piso, conforme descreveu o responsável ao JM, a grande quantidade de água já fazia prever o que iria encontrar em diante.
Apesar do susto, Luís Taborda diz, no entanto, que no fundo não fica muito admirado com este desfecho, não fossem as infiltrações um problema já recorrente.
“Já reclamei muitas vezes com o dono do prédio sobre esta situação de infiltrações. Mas também sei que nesta ilha, é preciso ter um saco de dinheiro para fazer obras, especialmente na Rua de Santa Maria”, atira o proprietário, que ainda não fez contas à vida, mas estima que os prejuízos deverão rondar os 5 mil euros. “Os congeladores foram todos à vida, os danos causados pelo teto… e uma série de coisas”, apontou, sem saber quando poderá voltar a reabrir. “Não consigo saber quando vou voltar a abrir. Os bombeiros tiveram cá e disseram que, neste momento, o sítio não oferece segurança”, aditou.
De mãos atadas perante o incidente e com a situação dos comerciantes já muito fustigada pela pandemia, o proprietário já nem tem palavras para se lamentar. “Temos a restauração no zero. Já estou farto de fazer lamentações e ninguém me ouve”, rematou.
Três andares com água e terra Quem também tem muito a lamentar devido aos danos causados pela intempérie, é Mónica Wu, proprietária da loja Super Viva, situada na Rua da Alfândega, que prevê um prejuízo de mais de 10 mil euros. “Quando cheguei aqui de manhã [ontem] estava tudo molhado. A água entrou pelas janelas do terceiro andar e pela entrada. Tinha os três andares da loja com água e terra”, contou ao JM. Mas o cenário mais dramático verificou-se na cave, onde se encontra o armazém do espaço comercial que se dedica à venda de artigos de moda e casa. O cheiro intenso e o volume de água que ainda se via no referido espaço fazia antever um longo trabalho.
“Perdi muitas coisas na cave porque lá era o armazém e tudo o que é novidade guardamos lá. As caixas que tínhamos com artigos ficaram todas moles, nem quero imaginar como é que estão os artigos”, concluiu. Bombeiros “incansáveis” Não muito longe, na rua atrás, no Bar O Avô, o panorama não era mais animador. Os dois veículos de bombeiros que se encontravam parados em frente ao estabelecimento, na tarde de ontem, davam conta do que ali se passava. Na cara de Francisco Ricardo Sousa, proprietário do restaurante, a preocupação era clara. Ao nosso jornal, explicou que pouco passava das 8h00 deste domingo, quando abriu a porta para começar a trabalhar.
“Parecia tudo normal”, disse. No entanto, o pior veio depois. “Abri a porta e parecia-me tudo calmo, mas quando fui até à cave … aí é que vi um desastre total”. A água invadiu e causou estragos em diversos equipamentos que se encontravam na cave, causando um prejuízo de cerca de 3 mil euros, conforme estima o responsável. “Tinha água a encher um andar inteiro na cave. Isto é um problema enorme. Para quem trabalha na restauração e está tudo bem e, de repente, acontece isto …. é duro. O prejuízo vai ser grande, mas também não ter trabalhado hoje já foi uma perca enorme. É um dia perdido”, referiu Francisco Sousa, convicto de que hoje o restaurante está pronto para voltar a receber os seus clientes.