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Apr 26, 2021 - 6 minute read

Causa social, a associação que gere milhões, mas que pouco se fala​

Causa Social-Associação para a Promoção da Cidadania. Esta instituição de solidariedade social já existe há quase 12 anos na Madeira, mas é um nome de que muito pouco se fala. Aliás, Maria Ferreira, presidente da direção, até inicia a conversa, que resultou nesta reportagem, reconhecendo que quando o nome da sua associação surge cá fora, sobretudo na imprensa, é porque alguém se lembrou de falar das associações que “lideram” a solidariedade regional, ou seja, aquelas que mais recebem ajuda pública. Sabe que a discrição do trabalho desenvolvido pela instituição acaba por criar um certo mistério à sua volta, mas isso não a incomoda. “Esta associação é discreta na publicidade, mas não na atuação”, garante de forma segura.

Recorde-se que, ainda no início deste mês, o JM trouxe os dez líderes da solidariedade da Região. A Causa Social, com a sede no Bairro da Nazaré, no Funchal, aguenta-se, desde 2019, nos três primeiros lugares da tabela. Nos últimos dois anos recebeu um total de 6 milhões de euros e, já este ano, celebrou protocolos com o Governo superiores a dois milhões de euros.

A gestão do dinheiro, assegura, é “transparente”, até porque os relatórios de contas anuais são sempre publicados na sua página da internet e podem ser facilmente consultados.

Além disso, a presidente justifica a sobriedade da associação com o facto de “os elementos que compõem a direção já serem pessoas que já não têm carreira para fazer e cuja promoção já não seja um fator que as motive”.

“Esta associação é diferente das instituições que têm à sua frente dirigentes que estão em princípio de carreira”, acrescenta, dando a entender que, quem ali trabalha, já tem provas dadas com o trabalho que já feito no passado na Segurança Social.

Aliás, este será, provavelmente o “segredo” do bom funcionamento e da boa e estreita relação entre a Causa Social e a Segurança Social: “Eu trabalhei na Saúde e na Segurança Social e o facto de ter trabalhado nesses dois mundos facilita muito a comunicação”, admite Maria Ferreira.

Mais de 2 ME recebidos este ano

Desde o início deste ano, o Governo Regional já atribuiu à Causa Social mais de dois milhões de euros.

Parte deste dinheiro será para distribuir durante este ano e outra até 2024. Há ainda verbas para dar resposta a gastos de funcionamento e pagar a contratação de novos funcionários ao longo deste 2021.

A primeira grande verba atribuída aconteceu no mês de janeiro e foi publicada em Jornal Oficial como sendo o financiamento dos encargos com pessoal de enfermagem a afetar aos estabelecimentos integrados com a resposta social de estruturas residenciais para pessoas idosas, sob gestão direta da Segurança Social no concelho do Funchal. Foi autorizado pelo Governo um montante total de 688.650 euros, correspondente aos encargos com até 25 enfermeiros, a processar em 12 prestações mensais (janeiro a dezembro de 2021).

Já em fevereiro, através de uma resolução publicada novamente em Jornal Oficial, o Governo Regional autorizou “uma parceria técnica, logística e financeira para promover o apoio à resposta social de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas, nas suas possíveis modalidades de alojamento no contexto de pandemia provocada pela covid-19, através da constituição de Brigadas de Intervenção Rápida, designadamente para fazer face à ocorrência de surtos nas referidas respostas sociais”.

Esta parceria concretizou-se numa comparticipação financeira no montante total de 500 mil euros, a processar em seis prestações mensais, entre fevereiro a julho de 2021 (cerca de 83 mil euros por mês).

Em abril, a associação voltou a ser beneficiada com dois novos protocolos de cooperação.

O primeiro, relativo ao “financiamento dos encargos com a constituição de uma equipa de profissionais, constituída por sete técnicos superiores da área social, a afetar permanentemente às atividades sociais desenvolvidas pela Instituição, nomeadamente no âmbito da valência centro de atendimento e acompanhamento social”, se materializou numa comparticipação financeira mensal no montante de 10.512,91 euros.

O segundo, com o valor fixo de 948.600 euros, tratou-se de um financiamento para o funcionamento da casa de acolhimento Aconchego e será para ser distribuído pelos anos económicos de 2021 a 2024.

 

FEAS foi deixado para trás, mas um novo projeto foi criado

Este ano, a Associação Causa Social não se candidatou ao Fundo de Emergência para Apoio Social (FEAS).

Maria Ferreira explica a decisão tomada argumentando que se trata de um programa “muito burocrático”, que exige “muito trabalho” e também porque a associação não tem pessoal suficiente para o executar.

Aliás, foi por ter deixado para trás o FEAS que decidiu aceitar o desafio lançado pela Segurança Social e arrancar com um projeto novo: “Oficina de Ajudas Técnicas”.

O espaço onde irá funcionar esta nova resposta social já foi cedido pela Investimentos Habitacionais da Madeira (IHM) e fica mesmo ao lado da sede da associação.

Embora o nome do projeto faça referência a uma “oficina”, a presidente da Causa Social esclarece que a execução do mesmo será muito mais abrangente.

“Além de compreender a atribuição ou reparação de ajudas técnicas ao utente, irá ter dois psicomotricistas e duas ajudantes domiciliárias”, clarificou Maria Ferreira, salientando que estes profissionais não vão prestar apenas cuidados domiciliários, mas também fazer o diagnóstico das necessidades apuradas.

No fundo, revelou, “será uma ajuda domiciliária diferenciada” que, embora tenha uma incidência regional, vai começar a sua ação nos conselhos do Funchal, Câmara de Lobos e Santa Cruz.

O projeto, pedido no âmbito do programa 14-20, conta com apoio do Instituto de Desenvolvimento Regional (IDR) e tem um financiamento de 18 meses.

Neste momento, acrescentou, estão a ser criados os instrumentos necessários à sua criação, não havendo ainda uma data certa para o seu arranque oficial.

800 apoiados pelo Programa de Emergência Alimentar

A Causa Social também leva a cabo o Programa de Emergência Alimentar, criado em 2011 pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, para dar resposta a situações de emergência social.

O seu raio de ação abrange as freguesias de São Martinho, Monte e São Gonçalo e ainda a ilha do Porto.

Durante 2021, a média de agregados familiares ajudados em São Martinho ronda os 160, equivalendo a 520 pessoas. Em São Gonçalo, o número é menor e chega aos 37 agregados familiares. No Monte e no Porto Santo tem-se mantido sempre o mesmo número de famílias, 10 e 11 agregados respetivamente.

Ao todo, são cerca de 800 pessoas que são abrangidas por esta ajuda que se materializa num cartão, para ser utilizado nos supermercados, tendo em conta uma lista de produtos pré-estabelecidos.

Os valores atribuídos às famílias variam e são consoante os rendimentos. As contas são feitas pela Segurança Social, cabendo a esta associação fazer apenas a entrega dos apoios.