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Apr 14, 2021 - 4 minute read

Albuquerque: Portugal deve virar-se de novo para o Mar

Miguel Albuquerque defende que Portugal deve inverter a estratégia que adotou após a adesão à União Europeia, virada para as questões continentais, e voltar-se, de novo, para o Atlântico, apostando no Mar. O chefe do Executivo madeirense considera que essa apetência marítima poderá constituir uma grande oportunidade para o País se afirmar como potência marítima e projetar-se no mundo, a par de potenciar a criação de riqueza. Albuquerque defendeu estas ideias-chave, ontem, na qualidade de orador convidado do Curso de Defesa Nacional, tendo incidido a sua intervenção, através de videoconferência, na Economia Azul e no desafio que representa para todo o País. O líder madeirense defende que o País tem dois grandes recursos – as pessoas e o Mar – e deve potenciá-los ao máximo. Defende que a Estratégia Nacional para o Mar 2021/2030, cuja consulta pública já terminou, “deve ser difundida e explicada de forma inteligente aos portugueses, para que o País valorize e cultive, em termos gerais, uma educação e uma formação direcionadas para o Mar e para a Economia Azul”. Dirigindo-se aos 47 auditores participantes neste Curso, 22 deles civis, Albuquerque realçou que a extensão da plataforma continental para além das 200 milhas náuticas, cujo processo de delimitação está a decorrer junto das Nações Unidas, poderá vir a registar uma área de 4,1 milhões de quilómetros quadrados e permitir estender a jurisdição nacional a uma área imensa, 40 vezes maior do que a nossa área terrestre, cujas riquezas estão ainda por explorar. Segundo o presidente do Governo Regional, na área da ciência e inovação “é preciso apoiar investigadores, fundações, cientistas, institutos, universidades, startups e empresas que se dediquem à investigação, valorização e comercialização de subprodutos de origem marinha para a indústria farmacêutica, indústria alimentar, indústria de cosméticos, indústria de prospeção subaquática de metais raros, indústria química, medicina preventiva e regenerativa, bem como na área da energia e dos novos materiais”. E lembrou o caso da Made Biotech, da Composite Solutions e da Alga Plus, que são “exemplos de empresas de sucesso que devemos e podemos multiplicar por todo o País.” Recordou ainda o que estão a fazer países como o Canadá, a Noruega e o Japão, este último, para contrariar o domínio chinês terrestre sobre os metais raros, apostou, com sucesso, na deteção desses minérios, no mar. Crescer na aquacultura O governante disse ainda estarem reunidas as condições para Portugal crescer ao nível da aquacultura, uma das áreas da agroindústria que registou o maior crescimento ao nível mundial, com uma média de crescimento de 6% ao ano nas últimas três décadas. “O apoio às pisciculturas nacionais em mar aberto permitiria suprir o nosso défice ao nível de consumo de pescado, como também seria muito favorável para o aumento das exportações”, defendeu o governante madeirense, lembrando o que existe na Calheta, uma “referência europeia” no apoio àquela indústria. Outra aposta decisiva – esta com parcerias internacionais – deve ser a da robótica subaquática e das tecnologias digitais no mar, para a monitorização e estudo do potencial dos solos e subsolos marinhos da nossa plataforma continental, salvaguardando e preservando as áreas protegidas e a vida marinha – alertou Miguel Albuquerque. O governante aproveitou a oportunidade para se referir ainda ao Registo Internacional de Navios do Centro Internacional de Negócios da Madeira, para sublinhar que já é o terceiro ao nível europeu, com mais de 600 grandes navios registados com a bandeira portuguesa, acolhendo ainda empresas de ‘manning’ e ‘shipping’, que geram empregos bem remunerados aos seus jovens profissionais. Na sua intervenção, Miguel Albuquerque colocou ainda a tónica na necessidade de Portugal – se quiser assumir um papel central na interface América-Europa, Canal do Panamá-Europa e Oriente, África-Europa – investir fortemente ao nível dos portos, dos transportes marítimos e da logística, engenharia e reparação navais. “Portugal tem de investir na modernização, requalificação e logística dos seus portos no continente e nas regiões autónomas. Anualmente, transitam nos portos marítimos da Europa 3,5 mil milhões de toneladas e 300 milhões de passageiros”, salientou. Para o orador do Curso de Defesa Nacional, ignorar estas evidências e não apostar nos setores associados, como a construção e reparação naval e o turismo de cruzeiros e científico seria, no mínimo, absurdo. A esse propósito, lembrou o exemplo das Canárias, onde Espanha criou um centro prestador de excelência destes serviços de reparação e construção navais, no Atlântico.
“Portugal, com melhores condições, porque é que não o faz?”, questiona Albuquerque, lembrando as mais-valias que tal seria para a Madeira e para os Açores. FOTO DR